Dan 14/09/2018
Resenha para quem vai fazer vestibular.
A princípio, apesar de haver traços característicos do Romantismo (Indianista/Bucólico), Realismo (Determinismo) e Modernismo (Linguagem coloquial), o livro não é dotado de características literárias, visto que é um diário cuja preocupação não é semântica ou sintática, mas sim, apenas a transmissão de ideias e sentimentos ao interlocutor.
O livro é escrito por Helena Morley, uma brasileira criada com princípios burgueses pelo pai (liberalismo e protestantismo) e pelos anseios conservadores da mãe (absolutismo e catolicismo), desse modo, graças a isso e suas condições financeiras, fez-se inteligente desde pequena: Ela questiona muitos dos costumes da sociedade brasileira da época, como o porquê da distinção entre negros e brancos, costumes matrimoniais, superstições, boatos, etc.
Além disso, o enredo se passa num Brasil que acaba de fazer a troca de Floriano Peixoto para Prudente de Morais, portanto, são os primeiros anos após a proclamação da república e abolição da escravatura. Porém, há de se lembrar que não só em Diamantina - cidade que ficou rica no período aurífero da economia brasileira, na qual se passa a trama - mas no país inteiro ainda não se sentia o total reflexo dessas mudanças, logo, ainda temos uma sociedade extremamente patriarcal, racista e tradicionalista.
Outro ponto que é importante lembrar é que, embora há questionamentos por parte de Helena à escravidão, os mesmos não apresentam sinal de descontentamento ou de denúncia ao governo, isto é, apenas mostram como os pretos ex-cativos viviam sem necessariamente possuir anseios por mudanças.
No que tange à história em si, a linguagem é permeada de regionalismos e vícios, no entanto, ele se mostra extremamente simples ao ponto de você entender o contexto dos termos sem ter que pesquisá-los. Outro traço interessante é que, como não se trata de um romance, você já tem contato direto com as personagens, quase como que se presumisse que o leitor já as conhecessem. Dado tal fato, eu diria que até o penúltimo ano a ordem na qual você a lê não influencia muito, já que quase nenhuma história relatada em um dia é continuada no outro.
Por fim, é importante notarmos também que o livro passa por um processo de amadurecimento acompanha da personagem: No início ele é bem descontraído e apresenta acontecimentos que são supérfluos para pessoas mais adultas e experientes, mas, a partir de determinado ponto do livro, observa-se uma mudança nos trejeitos de Helena de relatar seu cotidiano, ou seja, ela parece estar ficando a cada dia mais madura e analítica, e, por consequência, seus relatos também.
Eu li por causa da FUVEST. Não é o estilo de livro que me atrai, mas me surpreendi com o caráter descontraído e transviado do enredo. Recomendo!
site: https://www.youtube.com/watch?v=RYG5XU1soxg