Lane 14/10/2012O devorador de SonhosO livro soa com uma premissa original, completamente oposta a qualquer clichê que a maioria dos livros propõe.
Ambientado em Londres, na época vitoriana do século XIX, o autor Gordon Dahlquist tirou vantagem na condição da sociedade que considerava naquela época os códigos morais mais importantes que os sentimentos.
A sexualidade era sublimada, as emoções reprimidas, e o período eram de instabilidade na politica e a aristocracia dividia o seu poder com a burguesia. Com bastante esmero, devo acrescentar, ele conseguiu criar uma história intrigante, bastante interessante e excitante, cheia de perspectivas e diferentes personagens.
Não consegui classificar o livro em uma categoria específica, ele contém muitos elementos os quais eu aprecio muito: mistério, ficção científica, fantasia, aventura, ação, suspense erótico e elementos góticos, tudo isso somado ao ambiente histórico.
A escrita do autor é minuciosa, ele não tem medo de reunir adjetivos reproduzidos, seu vocabulário é maravilhoso e sua narrativa adorável, entretanto minha crítica para este livro vai por ele ser longo demais.
Mas o que se pode esperar quando se pega um livro com mais de 650 páginas pra ler? Bem, o mínimo uma boa história sem descrições desnecessárias e excessivamente detalhadas, 40% deste livro deveria ser editado.
A estrutura dos capítulos é feita através das perspectivas dos três protagonistas, e isso é algo que eu gosto bastante, porém se estendeu demais e ficou repetitivo.
No meio do livro eu já estava exausta pela leitura, apesar da história inspirar minha curiosidade, e foi a partir daí que eu comecei a ficar descrente e a duvidar se o padrão formidável do inicio do livro seria preservado até o final.
A quantidade de vilões aumentaram consideravelmente durante a leitura, seus nomes e sobrenomes contribuindo para a minha confusão e aumentando o meu ceticismo. As coisas não eram explicadas de forma satisfatória, o que constantemente me colocava na condição de estar impenetrável na trama.
As motivações dos vilões eram incompreensíveis pra mim, às dinâmicas dos suspeitos os colocavam uns contra os outros, perdi as contas de quantos assassinatos teve na história, até tentei tomar nota mentalmente, no entanto desisti porque já estava estressada e, portanto, no meu limite já quase desistindo da leitura.
Por várias vezes cheguei a me questionar se o autor iria conseguir controlar a odisseia turbulenta, cheia de reviravoltas inesperadas da história, no entanto, foi aí que me surpreendi e ele conseguiu me reviver.
Gordon Dahlquist é dramaturgo e depois de saber sobre isso foi que compreendi o motivo dele esmagar o leitor em descrições exaustivas, para depois proporcionar a liberação de suas emoções. Afinal de contas, o livro, este livro fala sobre emoções!
Há um projeto maligno sendo executado, e que permeia todo o mistério do livro, algo que codifica as emoções das pessoas e todas as suas experiências e por trás deste plano existem pessoas ambiciosas e gananciosas, como políticos, donos de indústrias, membros do governo, oficiais militares do alto escalão e aristocratas.
O projeto envolve o domínio das mentes das pessoas e tem âmbito para todas as nações, mais ou menos, considerando todos os aspectos é como o que os políticos fazem para manipularem nossas emoções prejudicando a razão, jogando os medos e receios embora a fim de nos convencer que seguindo os seus planos estaremos seguros.
As pessoas presas na moralidade da época são seduzidas, suas memórias ocultas são despertadas e aprisionadas dentro de um livro de vidro e elas atingem um nível elevado do seu ser depois de passarem por um processo que as transformam libertando suas emoções.
O livro de vidro é mortal. O fascínio que ele proporciona tem efeito emocional muito grande em pessoas alienadas de sentimentos. Ele libera ondas de prazer e não diluí as emoções, os sentimentos são explorados com mais profundidade.
Entretanto, todas as pessoas que passam pelo processo não têm bons interesses no coração, e os vilões deste livro sabem disso e por isso fomentam suas metas.
A conspiração que envolve este projeto é simplesmente fascinante!
A história possui três personagens principais que são os heróis da trama e vários vilões que a alimentam de maneira extraordinária.
O enredo é complexo, repleto de intrigas, fugas e perseguições, cada detalhe é importante.
São tantos os detalhes que nos distraem e nos confunde, que o leitor se torna expectador de uma história com vários acontecimentos que fica difícil lembrar-se de tudo depois.
Celeste Temple, a Srta. Temple é uma moça – não tão jovem assim- solteira e de boa educação, que possui um pouco de dinheiro, herdado pelo pai. Sem motivação aparente ela recebe um bilhete no café da manhã, com um pedido formal de rompimento de noivado pelo seu noivo Roger Bascombe. Orgulhosa e muito mimada, a Srta. Temple decide investigar os motivos que levaram seu noivo a romper com ela.
Cardeal Chang é um assassino de aluguel que usa um casaco vermelho e tem consigo cicatrizes nos olhos causados por uma chicotada dada por um jovem aristocrata na infância, o que dá a ele uma aparência asiática. Sua imagem desfigurada causa receio nas pessoas, mas suas atividades profissionais ocasiona medo. No entanto por trás dessa imagem hostil esconde um homem sensível que gosta de ler poesia. Chang foi contratado para matar uma pessoa.
Dr° Abelardo Swenson é um médico do exército alemão, ligado a uma missão diplomática que tem como sua principal responsabilidade ser babá do príncipe –nefasto- herdeiro do ducado de Macklenburg. O príncipe esta de casamento marcado com Lidia Vandaariff.
A trama se desenvolve a partir de um bizarro baile de máscaras em uma mansão – Harschmort - onde os três protagonistas estiveram presentes, e cada um é envolvido despretensiosamente num esquema excêntrico de suspeitas. De súbito, eles não se encontram na mansão, contudo posteriormente os três são enlaçados pelo perigo de morte.
*Quando os três ficam juntos, pra mim foi o melhor momento na trama.
Os personagens, em especial os protagonistas me ganharam por serem tão antagonistas. Eles transmitem uma forma simultânea com as suas fragilidades emocionais que delimita cada um. Todos eles perderam alguém que amava.
A Srta. Temple querendo resolver uma questão que poderia ter decidido se afastar facilmente, Chang que por força das circunstancias é obrigado a se proteger para sobreviver e o Dr° Swenson que acredita que tem uma responsabilidade com seu país.
Eles não sabem, mas eles também passam pelo processo de transformação, sem experimentarem diretamente os elementos de alquimia (a tal argila indiga), que faz o processo que ataca as memórias das pessoas e controlam suas mentes, fazendo-as ficar tipo fantoches.
*O meu personagem favorito foi a Srta. Temple porque ela literalmente sucumbe aos seus sentimentos, ela faz as coisas com receio dos outros a acharem fraca, e quando se vê completamente quebrada diante dos seus companheiros, ela simplesmente decide provar a si mesma que não é fraca.
Eu achei o livro muito original, e como conclusão eu gostei da leitura. Os personagens –heróis e vilões- são divertidos e bem agradáveis o que fez aumentar a verossimilhanças das circunstancias descritas. O autor conseguiu soar tudo como verdadeiro, apesar do gênero pouco comum.
*O final é triste, porém eu fiquei animada porque tem o segundo volume e descobri que é uma trilogia.
A leitura não é para todos os públicos, porque o livro não é fácil de ser lido. Acredito que com o tempo e por causa da quantidade de páginas as pessoas desistirão de ler este livro e consequentemente, este será um livro que será encontrado somente em sebos.
Avaliei com 4 estrelas. (por causa da edição!)