Wesley.Figueiredo 02/03/2018
O conto "O Espelho", de Machado de Assis, foi publicado originalmente na Gazeta de Notícias em 1882 e reunido em livro com o título de Papéis Avulsos do mesmo ano. A obra não tem um determinado número de pessoa, no que diz respeito a narração, isso porque em algumas partes prevalece a primeira pessoa, e em outras a terceira. Nesse livro, traz-nos um "tom" de reflexão, o olhar a si mesmo, rever os conceitos, autoanálise, e, filosoficamente, a dualidade entre o corpo e a alma.
Em uma certa feita, um grupo de 5 rapazes estava na casa de Jacobina(5 com ele); eles decidiram marcar um encontro para conversar um pouco sobre os fenômenos da natureza, mistérios da vida, coisas intrínsecas que rodeiam o mundo. Na sala, Jacobina estava presente, porém era uma presença que "não fazia presença"; isso pois, ele era uma pessoa recatada, muito quieta, e tímida, devido a isso, não opinava muito no debate. Todavia, ele convence-se, e decide "entrar" na conversa. Ao começar a dialogar, entra em um ponto que leva aos rapazes ficarem pasmos, que é acerca da existência de duas naturezas, a interna e a externa, o corpo e a alma. No decorrer do papo, jacobina fala que ele não estava mais conseguindo "acessar" a sua natureza interna, ele não conseguia olhar para si mesmo, não via o outro Jacobina dentro de si. No entanto, ele recebeu um espelho da tia Marcolina, ela mandou pôr em seu quarto, e a partir desse dia, as coisas na outra natureza (interna) de Jacobina mudaram. Através desse presente magnífico, teve a capacidade de olhar para ele mesmo, ver e enxergar a pessoa que ele estava sendo, observar o que estava faltando para ele completar-se e tornar um homem de bom caráter.
A história remete-nos a um olhar bastante filosófico, um exemplo disso é o "dualismo psicofísico", um pensamento criado por Platão, que diz que o ser humano e constituído por um corpo e uma alma; e apesar da alma "falar mais alto", pois ela é imaterial perfeita e imortal, não despreza o fato de que o corpo é muito importante também, mesmo sendo material imperfeito e mortal. Existe uma imprescindibilidade entre ambos, e foi justamente isso que levou a Jacobina ficar conturbado, pois o corpo dele estava normal, mas tinha uma carência no interior, algo que estava faltando, mas com a ajuda do espelho, houve um reboliço na sua vida.
Ótimo conto, muito didático, edificante, contemplativo, e prazeroso. Quando comecei a ler, surpreendi-me, o conteúdo presente nessa obra é bastante proveitoso. Recomendável.