Ell_Marcelle 19/06/2024
Ela era apenas a cor de sua pele. Até ver que havia mais.
"Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha alma."
A inocente garotinha tinha a existência reduzida a cor escura de sua pele. Até seu nome refletia isso. Não havia mais nada para ela, além das torturas da patroa D. Inácia.
A mãe falecida era escrava e ela era orfã. Aos sete anos, tudo que conhecera fora pobreza, fome, frio, dor e violência. Naquela casa, era tratada pior que um vira-latas.
E como o direito de ser criança havia lhe sido negado e nunca conhecera a felicidade, não sabia dizer ao certo se era triste. Portanto, era conformada com a realidade que vivia.
Só que tudo dentro dela mudara quando as duas sobrinhas de D. Inácia apareceram, com sua linda boneca loira, para passarem as férias.
Negrinha finalmente soube o que era ser criança. Ser uma garotinha. Brincar, sentir o sol, rir, viver... até que as duas meninas ricas voltaram para casa.
Após ver que não era apenas uma Coisa, que tinha alma, que havia mais do que aquela vida miserável oferecia, ela não pôde voltar ao estado de conformidade.
Fora demais. Deprimida, a tragédia aconteceu, inevitavelmente.
É um conto que pode ser pesado, devido aos maus-tratos que a criança sofre. Mas sabemos que as coisas eram assim. Que aqueles tempos abrigam histórias até mais cruéis.
O autor faz críticas através da ironia e da linguagem dura.
Uma sociedade hipócrita e racista.