underlou 14/12/2023
"Finge ? dizia-me eu ?, finge depressa que és outro, dá a falsa entrevista, faz-lhe um afago, joga-lhe um osso ? mas nada te distraía: tu me espiavas. Tolo que eu era. Eu fremia de horror, quando eras tu o inocente: que eu me virasse e de repente te mostrasse meu rosto verdadeiro [...]" ('O crime do professor de Matemática')
Uma opinião muito impopular, mas achei 'Laços de Família' um livro muito "comum" de Clarice Lispector. Isso não é pejorativo, pelo contrário, é uma boa prerrogativa; mas eu esperava mais dos contos incluídos no volume. Datado de 1960, talvez o que tenha comprometido minha leitura seja a experiência anterior com os últimos livros da autora, nos quais a potência dela extrapola os limites de um formato, algo que, em Laços, fica muito evidente o inverso.
Já havia lido alguns contos como o que dá nome ao título e 'A Imitação da Rosa', o que também prejudicou minha leitura da obra por completo. Ainda assim, gosto do "fingimento" que a contista imprime nas sua narrativas ao tratar das relações que estabelecemos conosco e com nossos pares. Ao final, se crispada qualquer frustração do leitor, há a surpreendente 'O Búfalo', uma narrativa ímpar sobre o (des) amor fingido, no qual amor e ódio são implorados com a mesma pressa.