Ronaldo 01/03/2020
Ler Clarice é sempre um desafio, com seu texto complexo, metáforas nada óbvias e uma profundidade que chega ao transcedental. Mas também é um deleite, principalmente quando você consegue extrair desse texto tão misterioso grandes verdades sobre a vida. É como se estivéssemos lendo algo proibido, frases repletas de significado que podem revelar grandes segredos sobre a natureza humana. Nessa coletânea a autora discorre sobre vários temas, a maioria relacionados aos laços familiares, mas mais especificamente sobre relações conjugais. Em boa parte dos contos temos como protagonistas mulheres brancas, casadas e de classe média que devido a algum acontecimento fortuito, se descobrem insatisfeitas com suas vidas medíocres e que ao menor vislumbre de como é a vida fora dessa prisão, sofrem uma grande revolução interior. Aliás, quase não há ação nessas histórias, pelo contrário, tudo é muito introspectivo, os personagens passam por um turbilhão de sentimentos que pode tanto libertá-los quanto sufocá-los ainda mais, porém, eles nunca saem os mesmos dessas jornadas interiores. No entanto, há muitos outros temas pelos quais a autora se envereda, como a dificuldade em lidar com a culpa, egocentrismo que rege as relações humanas e, é claro, os tais laços de família, que unem as pessoas pelo resto de suas vidas, mesmo que elas tenham se tornado estranhas uma para a outra. Nem todos os textos eu compreendi completamente, alguns eu mais senti do que assimilei, sem conseguir expor em palavras o que entendi, alguns me incomodaram, outros me emocionaram, com muitos me identifiquei. Por isso recomendo: vá sem medo, por que algo de bom você certamente vai tirar dessa leitura.