Sara.Marques300 29/05/2020?E foi assim que eu ganhei a minha primeira roupa de poeta?O meu pé de laranja lima, vai contar a história do menino José, apelidado carinhosamente de Zezé, o quarto filho de uma família muito humilde. Zezé um menino muito inteligente, que aprendeu a ler com 5 anos, era conhecido na vizinha por suas traquinagens e bagunças. chamados por muitos de "capeta", o menino Zezé consegue a sua maneira encantar o leitor. Embora seja um livro infanto-juvenil, a obra de José Mauro tem a capacidade de fazer adulto chorar.
"Totoca vinha me ensinando a vida... Totoca sabia fazer outra coisa além de cantar, assobiar. Mas eu por mais que imitasse, não saia nada. Ele me animou ´dizendo que era assim mesmo, que eu ainda não tinha boca de soprador. Mas como eu não podia cantar por fora, fui cantando por dentro".
O livro se passa nos anos 60 e 70, no período da ditadura militar. Narrado em primeira pessoa, Zezé consegue com sua fluidez e leveza direcionar o leitor no decorrer das páginas, com suas palavras atinge o leitor em cheio. Tem facilidade em arrancar do leitor risos e gargalhas, da mesmo forma que consegue arrancar lágrimas. É como se você sentisse de fato, a dor e tristeza que a criança sente nos momentos difíceis.
“-Fica feio se eu chorar?
-Nunca é feio chorar, bobo. Por quê?
-Não sei, ainda não me acostumei. Parece que aqui dentro a minha gaiola ficou vazia demais...”
Zezé, peralta, traquina, extremamente sensível, inteligente e acima de tudo incompressível. Sua família era muito pobre, seu pai desempregado estava cada dia mais preocupado e nervoso. Ninguém tinha tempo para lidar com as ideias loucas de Zezé, sozinho ele busca em sua imaginação uma distração. É o pé de laranja lima que se torna seu melhor amigo, sua imaginação de criança consegue leva-lo para outros mundos, se afastar das dificuldades de casa é seu maior desejo. Desejoso por atenção, quase sempre ele aprontava uma. Sempre que algo de ruim acontecia em casa ou na vizinha o primeiro nome que vinha era Zezé, ele se sentia o "filho do diabo" e achava que por isso não ganhava presentes de Natal, nem a ceia tiveram. "Ela falava isso e olhava pra gente (que não teria condições de fazer uma ceia). Ela sabia que naquele momento não havia criança mais ali. Todos eram grandes, grandes demais e tristes, ceando a mesma tristeza aos pedaços".
Zezé sofria muita violência, não só física, mais principalmente psicológica. A falta de paciência que tinham com essa criança é de partir o coração. Mesmo quando a intenção do menino era boa, não viam nele, a não ser maldade. Todo amor que ele não recebia, ele fazia questão de transmitir para seu irmãozinho Luiz, Zezé era apaixonado por esse irmão e cuidava dele com o maior amor do mundo.
"Pq o menino Jesus não gosta de mim? Ele gosta até do boi e do burrinho do presépio.Mas de mim, não... Aí as lágrimas me desceram covardemente.
-Zezé, vc está chorando..
- Passa logo. Mesmo eu não sou um rei, como vc (Luis). Só sou uma coisa que não presta pra nada. Um menino muito malvado, bem malvado mesmo... Só isso.
Temas abordados: desigualdade, violência infantil, inocência, imaginação e negligência.