Vanessa1409 10/10/2023
O "Pis Aller" da Irmandade
A autora nos estapeia na face e nos sacode com esse enredo. A forma como cada palavra nos toca é surpreendente, principalmente ao relatar o passado de Zsadist e tudo que ele sente em relação a isso. Entrar na mente desse personagem pode ser tão traumatizante quanto vivenciar o trauma, e tal artifício da autora sufragou Z como um dos meus preferidos.
J. R. Ward simplesmente ousou, enlouqueceu, retornou à sanidade e findou com chave de ouro, porque Zsadist não precisava salvar, ele tinha que ser salvo. Foi nesse ponto em que ela decidiu que precisava mudar. A vulnerabilidade do personagem é o que nos toca, nos envolve e nos carrega àquele mundo, ao passado triste e sombrio de Zsadist. Por que ser previsível? Não foi. Ward mexeu suas peças nesse tabuleiro, tirando do oponente qualquer oportunidade de vitória, um recurso arriscado... que deu certo.
Fortalecer Bella foi o tiro mais certeiro nesse pis aller. Adoro quando os brutamontes se colocam como tais e, no fim das contas, eles que são resgatados. Bella não salvou apenas Zsadist, a vampira fez e aconteceu, ela resgatou Phury, consertou Revhenge, seu irmão, quebrou a imponência de sua genitora, estraçalhou todas as regras da aristocracia. Bella foi a guerreira da Irmandade. Não tem como não aplaudir a supremacia dessa autora, ela me deixou simplesmente embasbacada!
E os coadjuvantes não ficaram de lado, afinal, ela sempre puxa uma ponta para atá-la no volume seguinte. Ainda que com jeito irritante, Butch dá indícios de homofobia, sem perceber que sua alma se divide. John se coloca sempre no lugar certo e na hora certa. Tohr... caramba... melhor não soltar spoilers. E Vishous... esse promete quebrar mais regras que a própria Bella, e eu não vejo a hora de apreciar a coragem despudorada da autora em relação a esse personagem.
J. R. Ward ainda não conseguiu o feito de me decepcionar ? graças a Deus! ? Falando em divindade, estou curiosa com o que vem por aí, pois, novamente ? e, agora, com mais ênfase ?, o Solstício de Inverno é citado, bem como as maçãs, símbolos especiais desse Sabbath pagão. Pelo simbolismo dessa celebração, chamada de Yule, segundo a tradição druida, é no Solstício de Inverno que nasce a criança prometida, o retorno do deus sol, aquecendo, ainda que sutilmente, a terra fria. Isso me faz levantar algumas teorias, tendo a transição de John como a maior de todas, sendo que uma das fêmeas ainda demorará para dar à luz, e a outra foi assassinada. Então, tudo realmente gira em torno de John.
CONSIDERAÇÃO FINAL: ainda me sinto extasiada com esse título, e não sei quando conseguirei prosseguir na leitura da série. Amante Desperto é realmente intenso, ele desperta o terror e a luz, uma discrepância que nos deixa atônitos. Recomendo aos amantes do estilo sobrenatural, com muitas aventuras. Porém, preciso deixar uma ressalva... quem tem algum tipo de trauma com violência física e/ou sexual, melhor se preparar psicologicamente antes de iniciar a leitura. Por experiência própria, as cenas dessa obra nos conduzem ao canto mais profundo da alma, aquele mais sombrio e cheio de mofo. Obriga-nos a fazer uma limpeza. A outra opção é se deitar em posição fetal e chorar como se não houvesse amanhã. Portanto, se você não tem nenhum tipo de problemas nesse sentido, pegue seu exemplar e aprecie, garanto que será uma das viagens literárias mais interessantes que fará.