nalu 24/07/2021
Deus quebrou o mundo e Christelle Dabos me quebrou
Que série magnífica. Essa palavra é o suficiente? Não sei. Eu gostaria de colocar todos os elogios possíveis para esse livro, sem mais, sem menos. O universo de ?A passa-espelhos? é a coisa mais linda e mais poética que eu já li.
Existe o mundo antes e depois do Rasgo. Após esse mundo ter sido partido por Deus, surgiram as chamadas ?Arcas? que, na teoria, são governadas pelos chamados ?espíritos familiares?. Os membros de uma determinada Arca, como a Arca de Anima (lugar de origem da protagonista Ophélie) são descendentes de um único espírito familiar, um ser etéreo e poderoso.
Em Anima, o espírito familiar é chamado Ártemis. Apesar dela ser a regente dessa Arca, todo o funcionamento está na mão das chamadas Decanas. O povo de Anima tem poderes de animar os objetos, sendo que alguns, como Ophélie, podem lê-los. Essa mesma protagonista também tem o dom de atravessar espelhos para se deslocar entre lugares diferentes.
No Polo, o negócio é mais complexo. Existem vários tipos de descendentes do espírito de Farouk, que foram divididos em clãs. Os Miragens podem fazer diversos tipos de ilusões. Os Dragões possuem garras invisíveis capazes de machucar fisicamente outras pessoas. Existem outros clãs, mas prefiro não comentar a respeito dos poderes deles para evitar spoilers.
Christelle constrói uma narrativa cheia de remendos que, aos poucos, vão formando um tecido complexo, o quebra cabeça dentro de um quebra cabeça em que tudo, absolutamente tudo está interligado ? os pequenos detalhes, o próprio desenvolvimento das personagens, os cenários.
O que eu senti não foi um plot twist que surgiu do nada, causando uma quebra de expectativa ou um impacto para causar choque. Não, foi muito superior. Porque, na realidade, tudo aconteceu bem debaixo do meu nariz. Foi assistir todas as peças se unindo, todas as perguntas sendo respondidas (e mais perguntas para serem feitas). Agora, momento de tedtalk/resenha sério a parte?
CACETEEEEEEEEEEEEEE MINHA CABEÇA EXPLODIU, SIM. CHEGOU EM UM MOMENTO DA HISTÓRIA QUE EU JÁ ESTAVA ASSIM DE SAÚDE MANDANDO TREZENTOS SURTOS POR SEGUNDO PARA MINHA AMIGA NO WPP FOTO CHORANDO ÁUDIO GRITANDO
Enfim, são tantas coisas que eu quero pontuar, mas vou resumir em três: Thorn, Ophélie e linguagem poética. Thorn é oficialmente o amor da minha vida. Com dois metros de altura, cicatriz no rosto, inteligentíssimo e viciado em cheirar pó burocrático e organizacional, esse homem é um dos personagens mais superiores que eu já li na minha vida. Thorn não deixa transparecer suas emoções.
Ele tem dificuldades em transmitir seus sentimentos através das palavras, dessa forma, ele age. Ele age rápido, age para proteger as pessoas que ama e ele tenta. Ele faz tudo de tudo e mais um pouco pela Ophélie.
Já a Ophélie tem um desenvolvimento que eu mesma gostaria de ter na minha vida (risos). Ela perde toda a inocência, todo o medo e, quase literalmente, sai do casulo. Ou melhor, ela é forçada a sair. Toda a desgraça que essa garota passa a torna mais esperta, mais ciente do próprio poder, abre a visão dela para o mundo corrupto para onde ela foi arrastada.
Por último, a linguagem poética. Christelle Dabos trabalha essencialmente com conflitos emocionais. Antíteses, paradoxos, metáforas?ela não poupa nada e faz isso com destreza.
No livro também há a presença de críticas importantes a respeito da exploração da classe do proletariado, livre arbítrio e até uma pontuação existencialista.
O que, por sinal, eu amei.
Chorei, surtei, me senti burra. Nota: 5 estrelas + fav