Letícia 06/03/2017Gênero difícil de definirA escrita e a construção da é história incrível. Paul Morel é um artista e começa já na prisão, porém, não se sabe por qual crime. E também não é um preso qualquer, dada a existência de livros e outros mimos em sua cela. Daí tem-se a impressão de se tratar de um livro policial, porém, nesses casos busca-se desvendar o culpado de algum crime. Não é esse o foco da história. Ela se desenrola através da criação de um livro de Morel, que parece ser autobiográfico.
Durante a leitura desse livro dentro do livro, o detetive Vilela se identifica com Morel. Acontecem muitas reflexões sobre a arte e a vida em geral nos diálogos de ambos. Aliás, os diálogos são traço importante da narrativa de Fonseca.
É difícil continuar daqui sem spoilers, mas prepare-se para uma boa dose de erotismo. Existem muitas cenas desse tipo no livro de Morel e são uma parte importante para entender o que acontece, afinal. É uma parte realmente chocante da história, caso o leitor tenha alguma sensibilidade ou pudor com este tipo de leitura. Do meu ponto de vista, o autor (Fonseca) busca a naturalização da sexualidade, embora seja um pouco pesado. Acredito que a intenção tenha sido de escandalizar, deliberadamente.
Pessoalmente, gostei da história. É algo a que não estou muito habituada, uma maneira mais bruta de ver a realidade. Além disso, este é um livro da década de 70 que aborda discussões modernas, como relacionamentos abertos e a crítica ao sistema prisional, neste trecho: “Você prende os criminosos que pode e finge acreditar que na prisão eles serão reabilitados e a sociedade, defendida. Mas você sabe que na verdade os criminosos são degradados e corrompidos na prisão e a sociedade não precisa ser defendida, mas sim destruída.”
Enfim, certamente é uma leitura que eu recomendo com algumas ressalvas, pois muitas pessoas não são maduras o suficiente para este tipo de leitura.
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https://desafiolivrospelomundo.wordpress.com/2017/02/27/brasil-livro-1-o-caso-morel/