adorkableforme 03/09/2020
Um livro para reler sempre
"Subiu aos cumes dos Andes por caminhos indescritíveis,vendendo em casarios onde o ar era tão límpido, que se tornava possível ver os anjos à hora do crepúsculo."
O que me chamou mais atenção em Eva Luna,desde o princípio foi o título, adorei esse nome para uma pessoa. Não conhecia a escritora, mas foi uma ótima forma de adentrar o universo de Isabel Allende,fiquei apaixonada por sua forma de escrever de uma forma tão linda, doce e muitas vezes poética.
Eva Luna é filha de um índio de olhos amarelos e uma mulher que passou a infância em uma região encantada, foi criada na casa de um professor, pela sua mãe, até que está faleceu. Continuou na casa sob os cuidados da cozinheira, sua Madrinha. Porém, o patrão morre e a Madrinha a entrega para uma casa de um casal de irmãos solteirões, onde Eva continua a exercer trabalhos domésticos. A partir de então, Eva passa de uma casa a outra e depois começa a viver com Riad Hálabi e sua esposa Zulema, em uma cidadezinha no interior.
"-Assim é que faz,'passarinho-animava-me Elvira. - É preciso enfrentar. Ninguém se mete com um cão danado,mas pisoteia os mansos. É preciso brigar sempre."
Esses tempos que Eva fica com o turco Riad são muitos importantes,pois ela descobre o amor paterno e também o amor carnal. Além de ele desenvolver sua educação.A busca de Eva pela educação é muito significativa. Ela deseja aprender e enriquecer sua imaginação para se apropriar do mundo em que vive.Seu amor pelas histórias como se fosse a única constância em sua vida. Aqueles que amou sempre lhe foram arrancados, mas suas histórias e a educação nunca lhe poderiam ser tirados.
Eva aprendeu a contar histórias desde pequenina, sempre criando mundos novos, repletos de seres fantásticos e com finais emocionantes. Esse talento conquista a todos ao seu redor, e a pequena Eva vai conseguir depois de adulta tornar-se escritora.
"Ela não pôde negar-se, por recear que o estranho caísse na praça, transformado em um punhado de poeira,como finalmente acontece aos que não possuem boas lembranças."
Entretanto, a história não gira somente em torno da carismática protagonista. Allende aborda de forma delicada, mas não superficial temas como a ditadura, os momentos de democracia mascarada,o autoritarismo, a xenofobia, a loucura, a homossexualidade, a transfobia,
desigualdade social,comunismo, as guerrilhas, a vinda dos imigrantes para a América do Sul durante e depois a 2° Guerra mundial e sobretudo, o feminismo.
"Para Naranjo e outros como ele, o povo parecia composto apenas de homens; nós, as mulheres, devíamos contribuir para a luta, mas estávamos excluídas das decisões e do poder. Sua revolução não modificaria minha sorte, em essência; em qualquer circunstância, eu teria que continuar abrindo caminho por mim mesma, até o fim de meus dias. Talvez nesse momento, eu tenha me dado conta de que o final de minha guerra não se vislumbra, portanto, é melhor vivê-la com alegria, para que minha existência não se esvaia enquanto espero uma possível vitória para começar a sentir-me bem. Concluí que Elvira tinha razão: é preciso ser muito corajosa, a gente tem que lutar sempre."
O feminismo é personificado em Eva, uma mulher em muitas mulheres, forte, decidida, que passou por momentos muito difíceis e soube se reerguer e se reencontrar, para construir e reconstruir a sua história. Em um mundo e uma cultura ainda predominantemente machista, Luna se destaca questionando o papel da mulher na construção da sua identidade e dos seus desejos.
As palavras nasciam dentro de mim, cresciam, subiam,ressoavam na cabeça e chegavam aos lábios, mas eu não conseguia expulsá-las, estavam aderidas ao céu da boca."