Bala 19/11/2009
Bonequinha de Luxo transforma-se em Uma Verdadeira Mulher
Casa de Bonecas” trata de um assunto sempre atual e interessante – relacionamentos. É uma peça de teatro escrita há mais de cem anos, que traz como tema a vida conjugal de uma família de classe média. Nossa heroína, Nora, é a senhora desta casa que vive uma vida aparentemente maravilhosa, inclusive pra ela própria. Sempre evitando os dissabores da vida, ficava na sua segura bola de vidro, vivendo num conto de fadas.
Entretanto, estamos num mundo que é dividido com outras pessoas, e o que fazemos implica invariavelmente os outros, e o que os outros fazem nos implicam. Mesmo um universo limitado tem comunicação com o exterior, e então coisas acontecem, a vida acontece. E foi com a própria vida que Nora teve que se debater a partir de um acontecimento – a falsificação da assinatura do próprio pai. Isso colocou em risco o seu ser diante da família, e fez entrar em delicadas situações para tentar driblar os acontecimentos. Mesmo diante dos sofrimentos que esta situação trouxe, foi de fato o que de melhor podia ter acontecido a ela. A sua vida acabou sendo passada a limpo, a relação surreal que tinha com o marido e os filhos, a sua total falta de habilidade e de conhecimento do mundo, a sujeição total ao outro com sua conseqüente anulação como ser humano. Ter descoberto a verdade a colocou na condição de alteridade com o outro, e não unicamente como aquela que faz do desejo do outro o seu próprio. Ela viu a vida de brinquedo que levava, e viu o marido, cúmplice nessa farsa tão vil. E ele, também enredado neste teatro, teve que se debater por não mais poder sustentar a situação, por um dos atores encerrar a peça. Tendo o pior acontecido, a realidade se impôs de forma inclemente. Ela teve que olhar para si e para sua vida, e viu o caminho que tinha tomado, quem ela estava sendo. Mesmo sem saber direito o que fazer, redireciona tudo o que acontecia, sai do conto de fadas e mergulha no real, assumindo drasticamente as rédeas do seu ser.
Como pano de fundo, outras historias também se desenrolam, outras vidas desatinadas acham um rumo. Sua amiga, após a emancipação de seus familiares, se via só e sem função, sem ter pra que existir, dado que tudo pelo que sempre lutou foi pelos outros. Encontra então um outro a quem ser necessária, e esse outro vê nessa relação que começava, a sua redenção, a sua chance de reencontrar a dignidade. Farsas, mentiras, sacrifícios, redenção. Essas sit se desenrolam num ambiente familiar comum, e leva as pessoas a repensarem sobre sua própria condição, especialmente sobre em que pé esta seu relacionamento com o outro. Eu tento suprimir a vontade e a cs do outro? Ou tento crescer com ele? Vivo uma vida comum, ou uma casa de bonecas? E tem q se escolher...