Julih. 25/10/2024
Nós somos Os Mortos
Quando estava pesquisando opiniões sobre esse livro, me deparei com alguém dizendo que o livro não era uma crítica ao socialismo, mas sim aos proletários, à nossa classe baixa. Ao ler isso, fiquei dividida entre concordar com essa afirmação e, ao mesmo tempo, entender que eles não são responsáveis por sua ignorância, sendo submetidos a essa condição. O próprio Orwell afirma isso em trechos como: "não era feita nenhuma tentativa de doutriná-los com a ideologia dos partidos. Não era desejável que os proletários tivessem fortes sentimentos políticos [...] sem ideias gerais, eles conseguiam se concentrar apenas em queixas pequenas e específicas. Os males maiores invariavelmente escapuliam para além do campo de visão deles." Nunca foi de interesse político que a classe baixa tivesse intelecto; "eles podem receber liberdade intelectual porque não têm intelecto".
Quando eu estava no ensino fundamental, em aulas de geopolítica (em uma escola particular, pois, quando fui para a pública, coincidentemente, essa matéria nem estava mais na grade), meu professor disse uma frase que nunca saiu da minha cabeça: "um país só poderá se tornar desenvolvido quando houver a reestruturação da educação e investimentos sérios na mesma". Lendo 1984, isso ficou ainda mais evidente para mim; a todo momento, o partido fazia de tudo para anular a capacidade dos membros de pensar e formular opiniões próprias, tanto com a polícia do pensar e o CRIMEPENSAR, como com a implantação da novilíngua, que busca reduzir a capacidade de expressão de pensamentos, a alienação ou negligência em relação aos proletários, tudo isso para evitar um problema: "O problema é educacional. [...] A consciência da massa precisa apenas ser influenciada de forma negativa."
Ficou claro que a força das massas, do proletariado, da classe baixa, é a única que pode realmente fazer diferença: "Uma sociedade hierárquica só era possível com base na pobreza e na ignorância". Destruindo a base, destruímos essa pirâmide.
A grande pergunta é: COMO faremos isso, se o próprio Orwell afirmou que "as massas nunca se revoltam por vontade própria, e nunca se revoltam apenas porque são oprimidas"? Acredito que o problema desenhado por Orwell também é a solução: a solução está na educação, e penso que cabe a nós, pessoas que têm o privilégio, ainda que mínimo, de ter acesso a essa educação e conhecimento, usá-los e pressionar ativamente as entidades responsáveis para que a educação seja mudada. Um fato que ficou óbvio neste livro é que conhecimento é poder; com conhecimento, eles criaram aquela força e potência, e com conhecimento poderiam ser destruídos. Não é à toa que o passado foi apagado e recriado pelo partido, livros e materiais de conhecimento foram evaporados até "nunca terem existido". É certo que, independentemente de nossos esforços em vida, a mudança será mínima, mas não menos necessária. Afinal, nós somos os mortos.