Sidney.Prando 14/02/2022
UMA BARCA ESTÁ SAINDO, QUAL O RUMO? O INFERNO
📕Auto da Barca do Inferno tem como cenário fixo duas embarcações, num porto imaginário para onde vão as almas após a morte. A primeira barca é a do paraíso, que é comandada por um Anjo, e a outra é a barca do inferno, comandada por um Diabo, o qual tem um Companheiro. O desenrolar da peça se dá com a chegada dos personagens, os quais buscarão passagem para a vida eterna, mas para isso terão de ser julgados pelo o que fizeram em vida.
A medida que os recém mortos chegam as barcas, tem o contato primeiro com a do Diabo e sabendo em seguida o destino que aguarda quem nela embarcar, voltam-se a barca do Anjo. O julgamento moral é predominante nessa obra, sendo indiferente hierarquias terrenas que antes os separavam. É uma peça que leva a pensar o pós-morte.
🙋♂️Para mim, a obra serviu de introdução as peças de teatro que estão estacionadas na minha estante.
A diferença entre o Anjo e o Diabo é marca por sua completa antítese. Enquanto o Anjo é sério e calado, o Diabo é extrovertido e irônico. Isso serve para que o diabo se torne facilmente o personagem mais carismático nessa obra.
O Fidalgo, o Judeu Rejeitado e o Enforcado Testa-de-Ferro, são um dos mortos que passam pelas barcas, mas nenhum foi tão icônico quanto o Parvo. Quando o Parvo, Joane, quase se deixa ser iludido pelo diabo a embarcar em sua barca, desfere uma sequência de xingamentos ao Diabo. Fica difícil não rir.
A obra de Gil Vicente é avaliada sobretudo em seu impacto histórico e cultural, e em um grande aspecto por criticar o clero, a nobreza e os burocratas. Essa edição do Estadão leva outra de suas peças, Inês Fantasiosa, que não menos importante que Auto da Barca do Inferno, também leva a genialidade do dramaturgo português.
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