Caroline Heinze 13/09/2022
"Às vezes o meu coração fica meio claustrofóbico dentro de mim."
Comecei a ler "Se Miss Lizzy falasse" sem expectativa nenhuma, confesso. Pensei que seria apenas um livro para me distrair e não me fazer cair na ressaca literária. Que bom que eu me enganei.
A proposta do livro é um dos maiores clichês do romance: melhores amigos que se apaixonam um pelo outro mas têm medo de que isso arruíne sua amizade e, por isso, mantém os seus sentimentos em segredo. E, claro, um deles vai se casar. Por essa razão, a obra teria a chance perfeita de se tornar uma clássica comédia romântica à la sessão da tarde. Mas e aí que está o truque de mestre da autora: sua escrita é totalmente madura. Não há aqui aquela tentativa de ser uma história cômica e, até mesmo, boba. Há muita intensidade, sofrimento, reflexões. Você se pega com o coração agonizando pelos personagens e sentindo suas dores e anseios.
Com uma narrativa que se divide entre o passado e o presente, a cada capítulo o leitor consegue montar o quebra-cabeças da história, compreendendo os acontecimentos e como estes refletiram nas atitudes de Anna e Alex. Um dos pontos que mais merece destaque é que a autora mesclou o ponto de vista de ambos e assim é possível saber o que cada um sentiu em determinado momento e seus pensamentos. Isso nos aproxima dos personagens.
E, falando em aproximação, eu me envolvi intensamente pelo romance. A química, o respeito, a intimidade... tudo isso foi tão bem construído que simplesmente foi difícil terminar o livro e saber que não encontraria mais de Anna e Alex. Ainda mais porque me identifiquei com o temperamento mais colérico de Anna em certas situações e a introspecção e melancolia de Alex.
Esse livro foi um conforto. Uma leitura gostosa mas também emocionante. Eu queria poder imprimir folhetins sobre ele e sair distribuindo pelas ruas, para que todos pudessem conhecer a obra. Heloísa Bernardelli tem toda a minha admiração. É uma honra encontrar livros nacionais tão bons.
E, por fim, "Se Miss Lizzy falasse" é a prova de que a arte imita a vida. Me fez refletir sobre o tanto de coisa (na verdade, pessoas) que perdemos por não falarmos o que está em nosso coração. A falta que faz uma conversa sincera; transparente. Me peguei em muitos momentos com raiva dos dois por não sentarem e "colocarem as cartas na mesa". De negarem o que estavam sentindo, de não serem honestos quando precisavam ser, quando a relação entre eles dependia disso. Mas, no final das contas, quantas vezes também não fiquei com a garganta presa, sufocada, mesmo sabendo o que isso me causaria?