Anna e Alex se conheceram na madrugada em que a casa da família dela foi engolida pelo fogo; queimou todinha, do começo ao fim. Pelo menos foi o que ouvi dizer. Eu ainda não estava lá. Em compensação, estive lá por muito tempo depois. Rodando por Sheffield e os acompanhando bem de perto, com meus autofalantes entoando músicas que eles chamavam de indie, mas que pareciam apenas barulhentas para uma caminhonete velha como eu. Fiz silêncio enquanto eles liam. Enquanto cochilavam. Se apaixonavam. Ah, sim, eu flagrei todos aqueles olhares de Alex, que Anna nunca viu. E todos os sorrisos dela, que por azar ele não percebeu. Ouvi as declarações que não fizeram, as discussões que engoliram, o amor que aquietaram. Até que nos mudamos para os Estados Unidos. Alex, sua infelicidade e eu. Por muito tempo, fomos só nós. Mas existem boatos de que Anna está chegando. Talvez não no melhor dos momentos, é verdade, mas quem sabe assim ele pare de meter os pés pelas mãos. E, bem, na pior das hipóteses, ainda nos reuniremos outra vez, como nos bons e velhos tempos.
Ficção / Literatura Brasileira