spoiler visualizarIsa.saraii 01/10/2024
Um livro necessário, sem sombra de dúvidas
No quesito "denúncia social" esse livro é in-crí-vel.
Com certeza oferece inúmeras reflexões sobre a sociedade e a vulnerabilidade de muitos indivíduos que vivem em condições de rua ou de pobreza no geral.
Confesso que eu, enquanto soterapolitana, achei muito divertido enxergar os cenários do meu cotidiano expressos na literatura (algumas vezes até visualizei mentalmente os lugares e foi uma experiência inédita!). Então, embora a perspectiva da cidade de Salvador tenha recebido um novo tom nesse enredo, amei a sensação de que, de alguma forma, estive/estou ainda mais próxima da história.
Acho que, além disso, um outro fator especial da obra é a oportunidade que temos de enxergar a vida urbana por meio do olhar das mais diversas crianças. Em "Capitães da Areia", muitos são os protagonistas, e todos possuem dilemas próprios e igualmente importantes. Sem sombra de dúvidas, é essa diversidade de personagens e personalidades que torna toda essa experiência de leitura ainda mais rica.
*Deixo aqui, especialmente, o meu carinho à Dora (mãe, irmã e guerreira de todas as crianças), ao Pirulito (nosso amado futuro padre), ao Professor (artista sensível e apaixonado), e ao Sem-pernas (que representa a síntese de todos os sentimentos relativos ao abandono que essas crianças possuem).
Mas se o livro é tão interessante e necessário, por que não ???????????
É aqui que entra a minha própria percepção do enredo e a minha própria experiência de leitura: Ainda que eu entenda o propósito do Jorge Amado ao narrar algumas cenas reais (e por vezes difíceis de ler), confesso que muito me incomodou enxergar uma certa naturalização da atividade sexual entre crianças.
Eu realmente entendo que exista um enorme propósito de denúncia social nessa obra, mas, ainda assim, não gosto da romantização de determinadas coisas (como a relação sexual entre Dora e Pedro Bala) ou descrição de diversos abusos que são cometidos pelas próprias crianças (como a cena em que o Pedro estupr* uma menina). Enfim, esses incômodos podem variar muito de leitor para leitor e, no meu caso, foram aspectos suficientes que me impediram de "AMAR" esse livro.
Por último, esse é um livro muito bom e que, por vezes, nos dá um verdadeiro choque de realidade. Completamente indicável para todos que não têm medo de enxergar a realidade da miserabilidade humana e que procuram vislumbrar uma esperança de melhora social, por meio da resistência e da luta de grandes crianças.