wesley.moreiradeandrade 11/01/2017
Na Estante 60: Caetés (Graciliano Ramos)
Caetés foi o primeiro romance publicado de Graciliano Ramos. Nas páginas deste livro já é possível entrever, em sua estreia literária, o mestre da escrita de romances que se notabilizou com a publicação de diversas obras importantes. Ao narrar a estória de João Valério que se envolve com Luísa, a esposa de seu patrão, Graciliano, à maneira de um Eça de Queirós, uma de suas influências, faz um retrato da pequena cidade de Palmeira dos Índios, limitada em sua mediocridade, preocupada com a vida alheia e com situações tacanhas e triviais.
O próprio protagonista é um produto desta região, João Valério pretende escrever um romance histórico onde ele relata o famoso episódio do Bispo Sardinha que foi devorado pelos índios caetés, porém o rapaz não consegue avançar mais do que algumas páginas deste trabalho e o que conseguiu desenvolver ainda não é satisfatório.
Caetés é um romance que possui seus defeitos, Graciliano ainda está preso a uma escrita mais detalhista, talvez por uma influência dos textos realistas com os quais cresceu lendo, e por vezes a insistência em retratar a rotina de poucas novidades dos moradores de Palmeiras dos Índios acabou deixando a leitura um pouco mais arrastada, porém a concisão e uma análise um tanto quanto distanciada e objetiva das personagens se impõem em algumas páginas e movem a trama para a frente tirando o enredo do marasmo.
O debut de Graciliano não chega a ser, então, um clássico como Vidas Secas, Angústia ou São Bernardo, no entanto serve como registro de um artista em desenvolvimento e consciente de seu projeto artístico e anuncia aquele que se tornaria um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos.
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