Jamile.Almeida 23/01/2023Vazio?Vazio...
Vazio completo, o que Melissa sente e o que este livro representa.
Bem, trata-se da história real (?) de uma menina de 15 anos que se apresenta em seu diário como sem laços... algumas resenhas que li relatam que ?seus pais não a amam?. Bem, você está lendo o suposto diário de uma adolescente que selecionou o que iria ser publicado. Não sabemos o que há em relação aos pais, não há dados para sabermos, não há um passado, apenas ela em casa e com os pais ?por alí? e qualquer alusão que o leitor faz desse assunto, reflete mais o que o leitor interpreta e traz da sua vivência pessoal... ou seja, é uma extrapolação...
Não há grandes relatos de amigos, de vínculos saudáveis e esperados para sua idade. Ou seja, a Melissa se sente só... e isso ela transparece em seu diário ao não citar grandes amigos ou momentos com os pais... O motivo? Só perguntando diretamente a autora. A verdade é que muitos não sabem a origem de seus vazios e essa descoberta pode levar uma vida inteira.
O problema é como tentamos preenchê-lo... temos uma adolescente sem vivência ou experiência de vida, com uma boa formação (sim, ela cita bastante mitologia greco/romana e até tem conhecimento da Lolita de Nabokov.... Coincidência ou não, quem leu a obra sabe que a Lolita não existe... é uma fantasia do Humbert, quem existe é a Dolores... e no seu diário, a Melissa diz ser chamada de Loly por um dos seus relacionamentos e até fala: ?Ele gosta de Loly, a Melissa ele nunca ouviu falar?. Mas as semelhanças com o livro de Nabokov param por aí... Melissa e Dolores são completamente diferentes).
Voltando, (...) com uma boa formação e que tenta ocupar esse vazio na busca de um grande amor... compartilhar a vida com outrem é bom e seria o ideal, mas por a solução da sua existência no amor do outro é um problema sério.
E aos 15 anos ela resolve que é hora de procurar esse amor que vai ocupar esse espaço... sim, como se aos 15 anos fosse o momento certo dessa busca de toda uma vida. Já fomos adolescentes, sabemos quanto imediatistas podemos ser. Melissa busca essa autoafirmação, esse ?se conhecer? em relacionamentos puramente sexuais... homens, mulheres, muitos homens ao mesmo tempo, novos, velhos... as fantasias mais diversas (alguns chamarão umas de perversão outros de liberdade, não entrarei nesse mérito).
No início, a falta de experiência na matéria sexual, a faz a ser levada às situações e obviamente sua descoberta inicial é frustrante, ela sonha com o amor dentro de todos os romanceios, alguém que a apoie e a valorize, que seja seu suporte e que ela possa ser o suporte de volta... são situações de risco e perigo real, desconhecidos, violência, álcool e drogas... sorte ela estar viva...
Vamos lá... se%0 é bom, faz parte de uma relação saudável, porém não é ele que transforma o desejo hormonal em laços sólidos... é a convivência, o apoiar, o se reconhecer no outro... coisas em que uma relação puramente carnal, não traz, é a falsa ?intimidade?... a intimidade de despir as roupas, mas não a alma... obviamente uma menina de 15 anos não sabe disso. E lá vai a Melissa, sem prazer, pelo ato mecânico, por uma busca sem fim, se entregando a tudo e todos e se sentindo cada vez mais humilhada e perdida...
Bem, o livro é mal escrito e traduzido... eles até erram o nome do principal personagem do livro Lolita... chamam Humbert de Hubert e não foi pela esperteza do jogo de palavras que o Nabokov usa e utiliza em seu livro com seu jogo de letras (espero q tenha sido só a tradução). A construção é péssima..., mas tudo bem, trata-se de um diário de uma menina de 15 anos... acho que ninguém esperava que fosse uma ?Virgínia Woolf?. Tudo bem... são só 15 anos! Enfatizo: são só 15 anos para tudo aquilo... uma vivência que a vai destruindo e a deixando mais vazia e suja (suas próprias palavras, não uma interpretação moralista minha. Melissa vira objeto, objeto dos desejos e prazeres alheios, não os dela. As escovadas a noite para dormir, fariam parte do seu processo de ?purificação?... que ela até abandona em um determinado momento.
Essa reflexão faz todo sentido e seria interessantíssima se essa fosse a mensagem do livro: uma alerta aos jovens sobre o cuidados nesses relacionamentos superficiais, objetificados e abusivos, que não preenchem vazios ou trazem amor (para o outro ou para si)... pessoalmente, não vejo problemas com as fantasias, mas vejo, no fato, dela ser usada através de uma menina de 15 anos que resume a isso a fórmula da vida, não é uma crítica regada de tabu ou religiosa... Mas a mensagem final desse diário dos 15-16 anos dessa colegial é: e finamente ela achou o amor... sério? Gostaria de perguntar a Melissa se foi ali que ela realmente se sentiu completa...