Marker 02/03/2020li, na ilustrada, uma crítica muito desassombrada de evando nascimento, que termina dizendo: "no mundo ideal, movimentos de apoio aos desfavorecidos seriam maciçamente auxiliados pelas megaempresas que sustentam o cenário global da desigualdade social. Infelizmente, nenhuma utopia literária conseguiu até hoje realizar esse milagre." logo abaixo do texto, um único comentarista corrobora e provoca: "a literatura precisa inquietar. se não faz isso, não cumpre o papel primordial. as coisas precisam - todas elas - ser incomodadas, no sentido de ser instigadas." me parecem, ainda que de certa forma favoráveis ao texto de fuks, testamentos de que este é um texto que opera em vibração muito mais branda que gostaria ou poderia. não é como se no livro anterior o escritor estivesse interessado em 'resistir' de forma enérgica, ou que essa ação direta seja necessária, mas há nessa homem-literatura brasileira, nessa 'literatura de alcova', como cunhou maria valéria rezende e lembrou berttoni licarião, uma certa falência da afamada autoficção. será o olhar para dentro, o investigar a si, o fabular da própria matéria, o caminho mais fortuito de se pensar uma ocupação de refugiados. é curioso que o capítulo onde o próprio fuks propõe essa mea culpa metalingústica soe melhor calculado que grande parte do texto, e este é um livro que realmente parece calculado em minúcia. pessoalmente, decepciona.