spoiler visualizarLaura 03/09/2024
Desconcertantemente atual.
"-Que é isso, John? - exclamou Helmholtz com solicitude. - Você está mesmo com ar de doente!
-Comeu alguma coisa que não lhe fez bem? - perguntou Bernard.
O Selvagem fez um sinal afirmativo.
-Comi a civilização.
-O que?
-Ela me envenenou; fiquei contaminado. E então - acrescentou em voz mais baixa - engoli minha própria perversidade."
A atmosfera criada por Huxley é desconcertante e por vezes absurda, embora muito se assemelhe à sociedade atual. Em Londres, um mundo hipertecnológico e avançado em que a ciência é a base do bem-estar; o antigo é abolido, o tradicional não existe mais. Pais e mães são obscenidades do passado, agora os bebês nascem artificialmente e são condicionados em Centros de Condicionamento do Estado, onde aprendem tudo que precisam para serem seres humanos felizes e satisfeitos. Moralidade? é o mais fácil de se ensinar, pois não há racionalidade por trás dela.
A leitura foi bem tranquila, a história parece ter deslizado de tão fluida que é. Muitas vezes me pegava pensando "que absurdo!", "credo!", "Deus me livre", apenas para me dar conta que o que eu lia era apenas um exagero do que já é normal hoje em dia. A erotização precoce, a desvalorização da mulher, a fuga da realidade, a busca pela perfeição.
O personagem mais marcante, sem sombra de dúvidas, é John. O Selvagem (como era conhecido John) leva para a sociedade sentimentos antes desconhecidos. O amor pela vida: pura e crua como ela é. O entorpecimento dos perfumes, estímulos sensoriais, soma, sociabilidade. Tudo isso o enlouqueceu. Numa das cenas mais marcantes do livro, em que ele, Bernard e Helmholtz são convocados para a sala de Direção, há um diálogo com Mustafá Mond, o "deus" de Londres. Ele é responsável por tudo aquilo. Apesar do que eu esperava, ele não se mostra como uma figura ruim ou má, sequer como uma pessoa alienada como os habitantes de Londres. Ele era um cientista apaixonado pela ciência, pelo conhecimento, mas que abriu mão de tudo isso pela felicidade do povo. O diálogo entre ele e o Selvagem foi bastante filosófico e ponto-chave na história. Foi-se discutido a importância de Deus, das crenças, da paixão e do belo.
Entre manipulação e condicionamento... será que poderia ser de outra forma?
Enfim, foi uma leitura fantástica que me permitiu ver o mundo sob uma perspectiva bem diferente. Recomendo.