spoiler visualizarJonatha8 13/01/2024
O admirável mundo novo e o perigo da busca pelo excesso de dopamina.
Isso mesmo, este livro é sobre felicidade, ou melhor sobre o excesso dela. A nota deste livro não vai ser pela escrita, nem pela criatividade deste livro, embora seja os dois dignos de boas avaliações, e sim pela importância dos escritos e da análise atual da qual o mundo de hoje está inserido. É divertido pensar que o Huxley pensou e escreveu em 1932 uma advertência sobre as escolhas, inclusive também, uma advertência à evolução humana e tecnológica, e a consequência destas. O mundo novo da qual é descrito por Aldous é nada mais que uma sociedade movida pela felicidade excessiva. Essa sociedade, baseada na satisfação pessoal, se privou de algumas, digamos, "questões" características humanas para, através desta ausências, atingir o apogeu da felicidade. De ante mão, já quero te dizer que esse ápice não existe, e que, mesmo acreditando que exista a consciência daquela sociedade que a felicidade da qual eles partilham é falsa, eles se utilizam de um "complemento" para conseguir viverem plenos (esse complemento é mesmo que uma droga).
A questão é, se eu me privo de tudo o que me faz triste, eu vivo feliz?
Essa pergunta é interessante porquê, embora a felicidade seja subjetiva, essa pergunta não é e a resposta é não. Nossa felicidade depende exclusivamente daquilo que me faz ser quem sou, e a tristeza é um dos meios pelo qual somos forjados. A somatória de quem somos é o que nos faz feliz. Eu sou feliz em amar, uma característica herdada de alguém que me amou, mas isso não significa que no amor não há dor. Conclui-se que a felicidade é um estado de espírito e não um dispositivo. Aí vem a pergunta, e porque isso é relevante nos dias de hoje? O fato, ou melhor, o problema é que hoje, cada vez mais, é comercializado essa "felicidade" objetificada. A prova real disso é que conversar com alguém no WhatsApp não é o importante, mas o importante é seu celular caro. Terrível, obscuro mas verdadeiro.
Sobre a Obra, percebi, talvez uma concepção minha, que ela é dividida em duas partes. A primeira fala sobre o funcionamento do Novo mundo. Essa foi umas das partes que eu mais gostei porquê ele nos explica, claro, de maneira ficcional, um estudo sobre como a sociedade daquele futuro chegou aos seus ideais. Então, é aqui que vemos a troca das bases da sociedade, da família, do amor e dos sentimentos, da comunhão por futilidades. Na segunda parte somos inseridos à ótica de um "selvagem" que me fez vacilar em achar a obra perfeita. Um selvagem que lê Shakespeare não é um selvagem, ou eu devo ser um macaco. Mas entendo perfeitamente que a ideia era trazer alguém do nosso mundo imperfeito e fazer esse contraste. Quando esse selvagem aparece e faz suas objeções, confirmando muitas dos pensamentos que fazíamos na leitura da primeira parte, percebemos que o novo e admirável mundo não é tão perfeito assim. O drama segue a sua cena final, respostas essas paras as perguntas "onde fica Deus nisto tudo?" e " qual é a resposta da sociedade as questões levantadas pelo selvagem".
Esse livro é uma crítica ao sociedade capitalista e sua busca desenfreada pelo consumo do objeto felicidade, aos avanços tecnológicos e científicos a medida que se perde o humano.
Admirável mundo novo é sobre um mundo não tão admirável assim.