Movido pela convicção de que a pintura não se limita a capturar a emoção da vida, podendo ser ela própria emoção, Julian Barnes demonstra que a reflexão sobre a arte também pode ser uma forma de arte. Faz isso com tal brilhantismo que o leitor jamais verá a arte com os mesmos olhos, depois de acompanhá-lo nesta viagem pelo mundo da pintura.
Já vai longe o tempo em que se acreditava ingenuamente que a arte dispensava explicações e que uma pintura não deveria ser analisada, mas simplesmente apreciada, pois isso só foi verdade enquanto a arte tomava como referência apenas a natureza. Contudo, a partir de meados do século XIX, quando a arte passou a dialogar mais com ela mesma do que com o mundo exterior, os explicadores se fizeram necessários. Hoje os cursos livres sobre história da arte se multiplicam, os catálogos dos museus se transformaram em verdadeiros livros, as visitas guiadas são mais populares do que nunca, sendo ainda complementadas pelos audioguias e os aplicativos para celulares. Todos estes dispositivos são destinados a orientar o visitante leigo no desconcertante e aparentemente inescapável labirinto de tendências, escolas, estilos, correntes e vertentes artísticas capazes de desnortear qualquer um.
Neste universo caótico, Mantendo um olho aberto ilumina o leitor como um benfazejo raio de sol surgindo de súbito em um céu nublado. Julian Barnes brinda o leitor com uma série de ensaios que focalizam quase dois séculos de produção artística. Seu olhar arguto se detém sobre obras clássicas, como A balsa da Medusa, de Géricault, até os perturbadores nus de Lucien Freud, neto do inventor da psicanálise, e salta do cubismo à Pop Arte, de pintores badalados como Cézanne e Delacroix a mestres pouco populares, como Vuillard e Juan Gris. Ao demonstrar que a ambição maior da arte é renovar nossa visão de mundo, Julian Barnes renova nossa visão da arte.
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