"Micrômegas" foi escrito por influência de "As aventuras de Gulliver", de Swift que Voltaire leu em Londres. Revela também traços de a "Pluralidade dos mundos", das palestras de Fontenelle e da mecânica de Newton, que Voltaire estudara com cuidado.
O resultado é uma obra agradável que induz à meditação sobre o homem, suas crenças, costumes e instituições.
Voltaire continua a ser brilhante em suas críticas e ironias.
A respeito da afoiteza em compreender o universo baseado na observação superficial, diz o seguinte:
O anão, que as vezes raciocinava muito apressadamente, concluiu a princípio que não havia habitantes na terra. Seu primeiro argumento era de que não vira, ninguém. Micrômegas, polidamente, fez-lhe sentir que ele não raciocinava muito bem:
- Como não distingues com os teus pequenos olhos, certas estrelas de qüinquagésima grandeza que eu percebo distintamente; concluiu daí que essas estrelas não existem?
- Mas - replicou o anão eu apalpei bem.
- Mas sentiste mal - respondeu o outro.
A insignificância física do homem na face da terra mereceu esta observação:
Não pretendo chocar a vaidade de ninguém, mas sou obrigado a pedir às pessoas importantes que façam uma pequena observação comigo: é que, considerando a homens de cerca de cinco pés de altura, não fazemos, à face da terra, maior figura do que faria, sobre uma bola de dez pés de circunferência, um animal que medisse a seiscentésima milésima parte de uma polegada.
Mais adiante Voltaire insiste em demonstrar sua desconfiança para com os sistemas filosóficos:
Se alguém chegou ao cúmulo do espanto, foram sem dúvida as pessoas que ouviram tais palavras. Não podiam adivinhar de onde partiam. O capelão de bordo rezou exorcismos, os marinheiros praguejaram, e os filósofos do navio elaboraram um sistema; mas, por mais sistemas que fizessem, não atinavam com quem lhes falava.
A grandeza aparente do mundo físico, em comparação com o espiritual recebe uma crítica incisiva:
"Reconheço, mais do que nunca, que nada devemos julgar por sua grandeza aparente. Ó Deus, que destes uma inteligência a substâncias que parecem tão desprezíveis, o infinitamente pequeno vos custa tão pouco como o infinitamente grande; e, se é possível que haja seres ainda mais pequenos do que estes, podem ainda ter um espírito superior ao daqueles soberbos animais que vi no céu e cujo pé bastaria para cobrir o globo a que desci".
A obra não é grande, mas seu conteúdo é enorme, merece uma leitura atenta.