Este livro que o leitor agora tem em mãos e começa a folhear é também sobre a tragicomédia da vida. Situações indizíveis, pensamentos peculiares, algo de intensamente triste, algo de intensamente lírico. Há um realismo chão e há, irmanada, uma possibilidade quase mística de encanto pelo outro. O trejeito. O desalinho. Encontra-se aqui a lágrima pretendida e um fundo de dor em cada gargalhada. E como há gargalhadas. E como há lágrimas. Nathalie Lourenço traz tudo isso à tona. Seus personagens estão sempre a nos lembrar o tanto que temos de um pouco ridículos. E de um pouco bonitos.
Apesar de ser um livro de estreia, Morri por educação já nos apresenta uma escritora experiente, segura do que as suas histórias têm para contar e hábil para nos conduzir pela leitura. Provável fruto de uma longa trajetória escrevendo crônicas, poemas e contos, publicados em revistas literárias, antologias, sites e blogs variados. É emblemático em seu texto, assim como nesse livro, o dom que Nathalie tem para extrair intensidade da minúcia. Um mobiliário inusitadamente decorado, um vestuário mal-ajambrado, algum hábito ou vício, uma indisfarçada reação inconsciente, um apelido, ou mesmo um pequeno animal de estimação. Estes, e tantos outros, podem parecer meros detalhes, mas o leitor atento perceberá que aqui eles ganham uma vida nova, ajudam-nos a ler o mundo, e se tornam verdadeiros personagens coadjuvantes de cada um destes dezessete contos desconcertantes.
A grande força, a estupenda e inconfundível beleza dos contos de Nathalie Lourenço está, portanto, nessa oferta inseparável de tristeza e riso, dor e alegria, choro e prazer. Finalista da Maratona Literária, Morri por educação já estreia premiado, quem sai recompensado é o leitor.
(Leandro Jardim)
Literatura Brasileira