Estados Unidos, meados dos anos 1950. O Circo Chinês de Jeremiah Mosgrove não é exatamente um centro de artistas virtuosos — tampouco tem qualquer relação com a China. Seu chamariz é uma série de atrações freak, que apresenta de cidadezinha em cidadezinha, em estilo mambembe: a Garota Ossificada, o Homem Mais Forte do Mundo, a Mulher Gorda. Seu grande astro, porém, é Henry Walker. Mais conhecido como o Mágico Negro, é ele quem surpreende o público pelo absurdo de seus números. Totalmente desprovidos de magia, seus truques são um desfile de incompetência pura e simples, marcados pela tristeza e pelo desconcerto. Exatamente por isso, divertem a plateia.
O que o público sequer desconfia, porém, é que Henry Walker já foi o mago mais impressionante do mundo. E que, antes de ser negro, ele já foi branco, e faquir, e herói de guerra, e negro novamente. Que já viajou ao território da morte, para resgatar sua assistente, e retornou com a aparência de anos mais velho, esgotado. Que, aos 10 anos de idade, fez um pacto com o próprio Diabo — o que lhe deu, ao mesmo tempo, seu único tesouro e sua invencível desgraça.