“Caiu do voo, parece ferida”, dizem. A ave jaz no solo, desfalecida, com as grandes asas desarranjadas. Pergunto: “perdeu as penas?” “Perdeu o dia!” Volto a perguntar: “já não o vê?” E, a minha visão regressa. Acordei! Encontro a noite. Como cintilam as estrelas! O que veem elas? Onze degraus! Subo. Alguém sobe os degraus depois de mim. No entanto, escorrega e cai. Volto a descê-los para lhe curar a ferida. Então, vejo também as minhas feridas, que agravam as dos outros, que, por sua vez, agravam as minhas. Que inferno! Que olhares tão bondosos! Quem disse que esta é uma ferida incurável? Não ficará ninguém para trás! E, não sendo suficiente a luz que chega de fora, luzirá a luz de cada um. “Basta!” É a minha última palavra e a minha última ação para as trevas que me envolvem. O firmamento quer fortemente a luz, as sombras querem-na vagamente. E, assim, puxa-me para si, faz-me voar de novo e deixa-me tocar a abóbada celeste. E, num sussurro, diz: “canta, Acalântis!”
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