Não tem nada do policial querido dos caricaturistas. Não tem bigode caricato, de pontas enceradas, como Poirot. Não calça botinas pesadas. Seus ternos são bem cortados e de boa fazenda. Maigret faz a barba toda manhã, tem mãos e unhas bem tratadas - que lava antes de sair do escritório, numa pia esmaltada que tem escondida num armário embutido.
Fuma cachimbo, leva uma bolsa de tabaco, abre o paletó dos colegas e subordinados ou entra em desvãos de porta para acendê-lo.
Anda de um lado para o outro, peripateticamente, com as mãos gordas atrás da cabeça.
Entra em cena maciço, de cachimbo apertado firmemente nos dentes. Daquele momento em diante, tudo deve chocar-se contra o rochedo da sua forma, quer ele se mova, quer ele esteja parado, sempre com os pés bem plantados no chão e ligeiramente separados.
Talvez essa maneira, um tanto vulgar, seja proposital.
Não tem nada de intelectual como Sherlock, ou de pedante, como Poirot. Para ele a atmosfera do caso é o mais importante que tudo.
Suspira.
Maigret não é só corpulento. É alto.
É paciente e magnânimo.
Suspense e Mistério