"As coisas não são como são, mas como se lembram". Esta sentença de Ramón del Valle Inclán abre o novo livro de Ignácio Larrañaga, O Pobre de Nazaré . O Autor adentra o mistério de Jesus com infinito respeito pelas tradições evangélicas, mas, ao mesmo tempo, com a liberdade de quem "viu e ouviu" e por isso se sente autorizado a falar (2Cor 4,13). E o resultado é, não uma cristologia, nem mesmo uma biografia de Jesus, mas a memória viva do homem Jesus de Nazaré, que se descobre a si mesmo como Filho bem-amado do Pai. A partir dessa experiência singular e irrepetível, Ele passa a descobrir, dolorosamente, a sua missão essencial como o "Pobre de Deus" e o "Servo sofredor" - na linha do profeta Isaías -, chamado como tal a instaurar um Reino novo com base numa radical disponibilidade à vontade do Pai e numa entrega sem limites ao serviço dos homens. O Pobre de Nazaré é uma criação original que oferece uma rica e variada informação documental, histórica e doutrinal, sem deixar de incluir elementos de ficção, estritamente apoiados nos documentos neotestamentários. A novidade deste livro está, acima de tudo, não em seu valor documental, mas em seu caráter de testemunho e na originalidade do tratamento do tema, que se inscreve propriamente na literatura narrativa, transmitindo-nos com propriedade e eficácia o mais substancial da vida e da mensagem de Jesus.