Atento ao que havia de mais original na cultura europeia de seu tempo, mas com os afetos e a sensibilidade firmemente ancorados na realidade russa, Ivan Turguêniev (1818-1883), um dos grandes mestres da ficção do século XIX, produziu uma obra que se tornaria modelo para um sem-número de escritores em todo o mundo.
Em O rei Lear da estepe (1870), ele parte da conhecida tragédia de Shakespeare, na qual o soberano, com idade avançada, abre mão de seu reino para legá-lo às filhas, mas ambienta-a na pequena propriedade rural de uma província russa. Para reconstruir a trama da corte inglesa no campo povoado por senhores, servos, agregados e trabalhadores pobres, Turguêniev lançou mão, com extrema habilidade, de suas próprias experiências de juventude, retomando o que havia feito em Memórias de um caçador (1852).
O resultado é uma obra com vida própria, repleta de enigmas e sutilezas que, cento e cinquenta anos após a sua primeira publicação, ainda desafiam a interpretação e mantêm o leitor intrigado da primeira à última página. Trazendo a primeira tradução direta da novela no Brasil, o volume inclui ainda o Discurso sobre Shakespeare de Turguêniev, proferido no tricentenário do dramaturgo inglês, e um posfácio da tradutora Jéssica Farjado.
Ficção / Literatura Estrangeira