Uma seleção dos melhores contos de Machado de Assis corresponde ao que de melhor se escreveu no gênero, em língua portuguesa. Maior escritor brasileiro, romancista cheio de artes e artimanhas, mestre da dubiedade, dando a entender, muitas vezes, o contrário do que quis dizer, conhecedor profundo da alma humana, o bruxo do Cosme Velho encontrou no conto um esplêndido terreno para as suas bruxarias.
Em quase meio século de atividade no gênero, Machado deixou 205 contos, entre os quais dezenas de obras-primas, das melhores escritas em qualquer época e país, que o colocam como uma espécie de pico solitário da literatura universal, ao lado de outros mestres do gênero, um Tchecov, um Maupassant, uma Katherine Mansfield, um Jens Peter Jacobsen.
No início de sua carreira, o escritor não deu muita importância ao gênero. O primeiro conto, publicado aos 19 anos, chamava-se Três Tesouros Perdidos, e o segundo, O País das Quimeras só saiu três anos depois (em 1862). O exercício constante e persistente do gênero só se realiza após 1864. Convidado a colaborar no Jornal das Famílias, as suas histórias agradam tanto as leitoras que cada número publica dois ou três trabalhos seus, obrigando-o a utilizar diversos pseudônimos.
O pleno domínio do gênero coincide com a grande crise de sua vida, no final da década de 1870, levando-o à descrença, ao pessimismo e ao temor da loucura. É a época das Memórias Póstumas de Brás Cubas e dos contos de Papéis Avulsos (1882), marcados pela inquietação diante da condição humana, amargos, irônicos, sarcásticos, críticos impiedosos do bicho homem, cheios de situações ambíguas, quando nada acontece, mas palpita uma riquíssima carga de humanidade.
Literatura Brasileira