É uma noite de temporal. A noite do acidente. Há uma gota de água suspensa num estilhaço de vidro que teima em não cair. Há um instante que se eterniza. Refletida na gota, Violeta mergulha nessa eternidade e recorda o que pode ter sido o último dia da sua vida, e nesse dia, toda a vida, e nessa vida, os pais, a filha, a criada, o bastardo, e em todos, a urgência da vida que prossegue indiferente, como a estrada de onde ainda agora se despistou. Nessa posição instável, de cabeça para baixo, presa pelo cinto de segurança, parece que tudo se desamarra. O presente perde a opacidade com que o cotidiano o resguarda e Violeta afunda-se nos passados de que é feita, uma espiral alucinada de transparências e ecos.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance