Na Tenda dos Milagres, Ladeira do Tabuão, 60, reitoria da universidade popular, mestre Lidio Forró e Pedro Archanjo, o reitor curvados "sobre velhos tipos gastos e caprichosa impressora, na oficina arcaica e paupérrima, compõem e imprimem um livro sobre o viver baiano"; ao lado da Igreja do Rosário dos Pretos, a Escola de Capoeira Angola é o espaço do mestre Budião - a universidade livre se concentra na região do Pelourinho e se espalha pela cidade.
Estes territórios do saber popular, fronteiriços de Pasárgada, Shangri-La, Aruanda e Eldorado, paraísos perdidos no passado, como a ilha de Thomas More, materializam o ideal de uma sociedade humana e fincam resistências às propostas do novo século - tecnológico e elitista. Neles, o eterno antagonismo entre humanistas e pragmáticos se evidencia e gera confrontos. Numa das margens, Pedro Archanjo Ojuobá, o herói boêmio e erudito, pardo, paisano, pobre e porreta; na outra extremidade, Nilo Argolo, caricatura de importações ideológicas e vanguardistas. O primeiro, autor de importantes obras antológicas, estudioso da cultura baiana; o segundo, inimigo da mestiçagem "degradada e degradadora".
A oposição entre mundos tão heterogêneo surge como o tema central do romance, mas, em seu texto ficcional, Tenda dos Milagres transcende os limites da sátira da vida literária e intelectual brasileira e só libelo contra o nosso preconceito racial. No dizer do crítico Antônio Olinto, Tenda dos Milagres "é um romance de tese, num grande e alto sentido".
Literatura Brasileira