UM LIBELO CONTRA A HIPOCRISIA E A UNANIMIDADE.
Um inimigo do povo foi publicado em Copenhague em 1882 e estreou no Teatro Nacional de Oslo em 13 de janeiro de 1883. Imediatamente foi traduzido para dezenas de línguas e encenado e publicado em quase toda a Europa, numa repercussão digna dos grandes autores franceses que monopolizavam a dramaturgia da época. A estreia em Paris foi marcada por grandes manifestações no teatro de apoio às ideias anarquistas. A enorme repercussão da peça motivou longos e apaixonados artigos do deputado socialista Jean Jaurès e do deputado esquerdista e grande intelectual do seu tempo Georges Clemenceau. Em 1898, voltou a ser apresentada em Paris em meio ao célebre processo Dreyfus, quando as sessões da peça eram seguidamente interrompidas com aclamações de protesto contra o Estado e de apoio a Ibsen e Zola, que pontificava na época com seu célebre libelo libertário J’accuse a favor de Alfred Dreyfus.
Um inimigo do povo é uma obra-prima sobre as contradições humanas e a falência do indivíduo frente à unanimidade. Mesmo diante da vontade de praticar o bem comum, o dr. Stockmann entra em choque com os interesses mesquinhos da cidade. Vítima da maioria e da unanimidade, o homem que queria salvar a cidade torna-se o inimigo do povo. Estas ideias de Ibsen aproximavam-se muito das ideias anarquistas, que tinham amplo apoio de importantes segmentos intelectuais e políticos da sociedade da época. A peça é uma impiedosa crítica às elites, aos governos, aos partidos e ao pensamento único.
Drama / Ficção / Literatura Estrangeira