“Todos os homens desejam por natureza saber. Indica-o o amor aos sentidos; pois, à margem de sua utilidade, eles são amados por si mesmos, e, mais que todos, o da visão.” Começa assim Aristóteles o livro I de sua Metafísica, apresentando em toda a sua crueza o “problema do saber”, um dos mais graves da filosofia e dos mais persistentes ao longo de toda a sua história. Que podemos saber? E como podemos sabê-lo? Tais são as perguntas a que tentam dar resposta o Platão do livro VII da República, o Aristóteles do Órganon, Descartes em seu Discurso do Método, Kant na Crítica da Razão Pura, Hegel na Lógica, Husserl nas Investigações Lógicas, e outros tantos. Hoje, o tema, se é possível, encontra-se em situação ainda mais inquietante do que em qualquer outra época. A bibliografia sobre o problema crítico, a epistemologia ou a teoria do conhecimento é inundante. Não o são, porém, as soluções, que Xavier Zubiri qualifica, já no prólogo mesmo desta obra, de conceptistas e, em última instância, de idealistas. Foi em 1935 que Zubiri tratou pela primeira vez o tema, exigindo já naquele momento uma superação das posições clássicas em favor do que ele então denominava “lógica da realidade”. Hoje, mais de meio século depois, instalado na plena maturidade de sua filosofia, Zubiri retoma a questão com um vigor e um rigor excepcionais. Em diálogo contínuo com a tradição filosófica, Zubiri vai página a página descrevendo o ato da intelecção humana e desmontando o acúmulo de hipóteses e teorias que subjazem ao chamado “problema do conhecimento”.