O primeiro sonho do mundo, magnífico romance de Anne Sibran, narra o encontro entre o pintor Paul Cézanne, que sofre de catarata, e o oftalmologista Barthélemy Racine, inventor de uma máquina revolucionária capaz de remover com precisão o cristalino do olho.
De um lado, o pintor que dedicou uma vida a tentar encontrar a “primeira visão”, a manifestação de cores e formas como na “primeira manhã do mundo”. De outro, o médico obcecado pela mecânica do olhar, que, obrigado a deixar a França após as revoltas de 1848, foi parar em São Francisco, Califórnia, onde acabou se casando com a indígena Kitsidano – que não enxerga desde o nascimento e cuja tribo foi aniquilada pelos garimpeiros. Somos levados então a Paris, onde agora o doutor Racine e Kitsidano vivem e para onde Cézanne viaja – deixando a Provença – em busca da cura para a catarata.
O primeiro sonho do mundo é um romance de profunda beleza e sensibilidade, que nos leva a muitos passeios: com Cézanne, um dos pintores mais revolucionários de todos os tempos, pelas montanhas, em busca da realidade do olhar e do modo como traduzi-la em sua arte; com o médico e Kitsidano, em busca de outras visões e no lamento pela ganância que destrói muitas formas de vida.
Como escreveu o jornalista Richard Blin, o romance é “uma ode ao puro sentimento de existir e à beleza selvagem e silenciosa do mundo”.
do texto de orelha de Adriana Lisboa
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