"Volto semana que vem” é o que a narradora deste livro responde ao pai ao sair de casa num dia de 1970, quando ele pergunta, espantado, aonde ela vai. “Mais de dez anos se passaram até eu voltar àquela cozinha”, conclui ela em seguida. Composto por recortes de memória, o livro é o retrato de uma vida brasileira exemplar: a de quem foi criança logo depois da Era Vargas (o dia do suicídio de Getúlio é uma das primeiras cenas evocadas aqui), cresceu nos tempos de Juscelino, foi jovem com a ditadura, militou com a esquerda, conheceu a prisão, a tortura e o exílio. Apesar da violência de boa parte das lembranças que compõem essa vida, o humor e a percepção do sabor das coisas transformam o que poderia ser amargura numa luminosa declaração de alegria irredutível.
Porto Alegre está presente nos primeiros quadros, das décadas de 1950 e 60 -- o bairro do Partenon, o bonde, o Grupo Escolar, a Faculdade de Direito. Depois vêm as décadas tumultuadas de 1970 e 1980, das prisões e da tortura, do heroísmo, da utopia e da derrota: a Oban em São Paulo, as prisões de Olmos e Villa Devoto em Buenos Aires, os companheiros militantes. Em seguida o exílio na França: verão em Montmartre, o encontro com outros exilados, a vida prossegue. Fechando o círculo, Porto Alegre outra vez, nas memórias contemporâneas.
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