Leila 03/05/2024Canção para ninar Menino Grande da Conceição Evaristo apresenta um mosaico de experiências afetuosas e doloridas vividas por personagens negros. No centro dessa narrativa está o personagem Fio Jasmim, cuja jornada permite à autora explorar com maestria as complexidades e contradições da masculinidade negra e seus impactos nas relações com as mulheres.
É importante reconhecer que a literatura tem o poder de nos confrontar com realidades desconhecidas e desconfortáveis, e nem sempre é fácil para todos os leitores mergulhar nessas narrativas. No caso deste livro, há uma sensação de desconforto diante de relacionamentos que parecem ultrapassados e tóxicos, mesmo que saibamos que infelizmente ainda são uma realidade para muitas pessoas, eu particularmente fiquei por várias vezes muito incomodada durante a leitura.
A crítica aos relacionamentos apresentados na obra não nega a potência literária de Conceição Evaristo nem sua habilidade em dar voz e profundidade às experiências negras. Pra mim o livro tem validade no que concerne discutir e problematizar essas relações, especialmente à luz dos tempos atuais e das lutas por relações mais saudáveis e igualitárias.
Enfim, na minha humilde opinião é uma obra que desafia seus leitores a confrontar questões complexas sobre gênero, raça e relacionamentos, mesmo que isso signifique revirar os olhos diante de certas situações retratadas (o que confesso, fiz várias vezes). É um convite ao diálogo sobre as realidades que permeiam as vidas dos personagens e, por extensão, as vidas daqueles que compartilham experiências similares.