Daniel.Faria 20/03/2011
O Jogo do Anjo
O escritor Carlos Ruiz Zafón vem destacando no cenário literário, “A Sombra do Vento” foi um sucesso, ultrapassou a marca de 10 milhões de exemplares vendidos no mundo, desde o seu lançamento em 2001. Um livro excelente em todos os sentidos, ambientado no período da primeira metade dó século XX, em Barcelona, o escritor nos leva por caminhos inimagináveis, entre personagens cativantes e misteriosos, a história é narrada com detalhes e faz com que o leitor se sinta parte dela. A obra de Zafón toca no fundo da alma e mexe com o nosso sentimento diversas vezes.
Lançado em 2008, “O Jogo do Anjo” já é um sucesso literário. Apesar de não ser uma continuação do antecessor, Zafón brinda seus leitores com cenários e personagens bem familiares. A começar pela cidade de Barcelona. O escritor volta à cidade, mas em um período anterior daquele vivido em “A Sombra do Vento”, mais precisamente década de 20. Em relação aos lugares, o leitor terá novamente o prazer de passear pela pequena e acolhedora livraria Sempere & Filhos e o misterioso e mágico Cemitério dos Livros Esquecidos. É nesse ambiente que Zafón constrói com maestria a história do seu novo romance. Segundo o próprio Zafón, O Jogo do Anjo, é uma história de mistério e romance, e assim como A Sombra do Vento, explora e combina numerosos gêneros, técnicas e registros. Além disso, é novamente uma história de livros, de quem os faz, de quem os lê e de quem vive com eles, através deles e até contra eles.
“Um escritor nunca esquece a primeira vez em que aceita algumas moedas ou um elogio em troca de uma história. Nunca esquece a primeira vez em que sente o doce veneno da vaidade no sangue e começa a acreditar que, se conseguir disfarçar sua falta de talento, o sonho da literatura será capaz de garantir um teto sobre sua cabeça, um prato quente no final do dia e aquilo que mais deseja: seu nome impresso num miserável pedaço de papel que certamente vai viver mais do que ele. Um escritor está condenado a recordar esse momento porque, a partir daí, ele está perdido e sua alma já tem um preço.”
Assim começa “O Jogo do Anjo”. O protagonista e narrador é David Martin, um jovem escritor que vive em Barcelona, na década de 20. David começou a sentir a dureza da vida ainda criança, com o assassinato do seu pai. O seu talento para a escrita logo se manifestou, mas as oportunidades nunca tiveram à altura do seu potencial. Jovem, desiludido profissionalmente e no amor, depois de ver Cristina – o seu grande amor – ir parar nos braços de seu amigo e protetor, Pedro Vidal, herdeiro do jornal e o homem a quem era destinado o tiro que matou o pai de David. Aos 28 anos, David Martin estava habituado a vender barato o seu talento, em troca escrevia histórias em um jornal, sempre escondido atrás de um pseudônimo. Vivendo sozinho em um casarão em ruínas, o jovem escritor se vê com um problema: está gravemente doente e com poucos meses pela frente. É quando surge em sua vida Andreas Corelli, um estrangeiro que se diz editor de livros. Sua origem é um mistério, mas sua fala é mansa e sedutora. Corelli procura David, por acreditar que ele é o único escritor que pode realizar o seu pedido. O editor oferece a David muito dinheiro e promete devolver e restaurar a sua saúde. Em troca Corelli não pede pouco: sua encomenda é um livro com potencial de influenciar milhões de vidas. O pedido coloca David em um dilema, que o leva a questionar as reais intenções do editor misterioso e a pensar o peso dessa decisão que poderá mudar sua vida para sempre.
O Jogo do Anjo é uma história de suspense, amor e fé. Zafón explora com maestria a cidade de Barcelona, mas de um ângulo diferente. No livro, David conhece e freqüenta a livraria Sempere & Filhos e também é levado ao Cemitério dos Livros Esquecidos.
Carlos Ruiz Zafón diz que “O Jogo do Anjo” tem uma visão diferente do “A Sombra do Vento”, um dos motivos é que no anterior, a história era contada a partir da visão de um menino que estava amadurecendo, descobrindo a vida e seus mistérios e assim ganhou um ar mais amável, agora o escritor vai além e diz que seu livro atual é mais completo. Ainda segundo o escritor, ele pretende criar uma tetralogia e que as histórias de todos os volumes se situarão em algum período entre a Revolução Industrial e o final da Segunda Guerra. O Jogo do Anjo por exemplo faz referencia a acontecimentos que vão de 1904 a 1945. O escritor diz que todos os livros poderão ser lidos de forma independente.
Como leitor, já me considero um fã da obra do Zafón. Os dois livros são excelentes, mas ao ler percebi que “O Jogo do Anjo” é mais complexo, ele aguça a nossa imaginação e assim como David fica preso em um dilema, nós também ficamos a cada descoberta. É sem dúvida uma obra completa.