Nina Souza 15/10/2023
Um livro reflexivo
Um jovem médico de Chicago enxerga em uma pequena cidade do Maine um lugar em que poderia criar raízes com sua família. Num dos primeiros passeios, conhece um cemitério no bosque próximo à sua casa onde estão enterrados amados animais de estimações de crianças. No entanto, para além, há outro cemitério: uma porção de terra onde viveram os indígenas Micmacs. Um espaço de rituais e crenças, amaldiçoado com sangue de disputas territoriais.
O livro traz uma questão histórica americana muito interessante e presente no Maine, que aponta para a mistura e a luta de diferentes religiões, culturas e povos através do místico. O médico, que não acredita nas lendas fantasmagóricas, passa a viver a morte e a desestabilizar os limites praticamente inexistentes através da dor. A dor passa a ser um combustível, e o luto uma parte da magia que dá o poder ao cemitério – e ao embate entre o real e o bizarro.
Foi uma experiência muito diferente daquilo que imaginei. O “medo” presente no livro é um conceito metafórico, construído a partir da emoção e dos efeitos psicológicos apresentados pelos personagens que, consequentemente, se expandem ao leitor. Não é o sobrenatural que assusta, é o real. É exatamente saber que, por amor e devoção, estamos dispostos a enfrentar barreiras que testam, ao limite, a nossa (in)sanidade – mesmo depois de tantos avisos e conselhos.
A temática da morte que permeia a narrativa, vistas em diferentes perspectivas, projetada na narrativa fizeram com que o livro, para mim, tivesse seus altos e baixos: amei o detalhamento do livro e toda a atmosfera de uma força sedutora de atração, colocando em xeque os limites entre a vida e a morte. No entanto, a maior contradição na minha leitura foi achar que gostaria de um final fechado e menos corrido quando, na realidade, o livro me mostra que, em alguns casos, devemos deixar algumas coisas em aberto – sem questionamentos, sem imposições, permitindo que o final seja apenas um começo de novas reflexões.
site: instagram.com/cartografialiteraria