spoiler visualizarCaio Cardoso 02/08/2011
Rota 66 - Polícia para quem precisa.
ROTA 66 – A história da Polícia que mata.
Publicação de 1993, ‘Rota 66 - A história da polícia que mata’ é um retrato da situação de pessoas inocentes que foram mortas por policiais militares paulistas desde a criação da Polícia Militar, na década de 70, até o começo da década de 90. As investigações ocorrem especificamente em torno das ações das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar – a ROTA, tida como uma seção de elite da PM, criada para combater guerrilheiros na época da ditadura militar. Esses mortos nas ações da Rota eram trabalhadores, desempregados, com família ou sem família, pessoas normais que terminam sua vida da mesma forma, com um tiro na cabeça após um tiroteio com os policiais, segundo o Boletim de Ocorrências. A história é contada em três partes.
Na primeira parte do livro, Caco Barcellos conta o caso da Rota 66 que matou três jovens de classe alta em São Paulo, na década de 80. A imprensa deu grande destaque ao caso na época e os policiais que mataram esses garotos assim o fizeram, por pensarem que eles eram ladrões e que haviam roubado o fusca que guiavam. Os policiais foram ao tribunal militar, mas após julgados foram considerados inocentes. Barcellos vai intercalando a história do caso Rota 66 com a sua história, mostrando o que viveu na juventude, comparando a sua vida com a de outros que passaram pelo mesmo apuro, fugindo de polícia sem motivo.
A segunda parte é dividida em sete capítulos em quase todos há o mesmo fim. A polícia que persegue o “bandido”, mata e depois o leva ao hospital para “prestar ajuda”, com o propósito de evitar a investigação na cena do crime. Com o decorrer do livro, ainda há o relato de várias pessoas mortas pelos mesmos policiais, é quando o autor chega a fazer um ranking com os nomes dos policiais que mais mataram pessoas nestas situações.
Na terceira parte, através da narrativa seguida de mais e mais casos semelhantes e com o decorrer da investigação do jornalista, percebemos que os policiais matam qualquer um. São casos variados de pessoas inocentes ou mesmo de criminosos comuns executados como se fossem latrocidas e estupradores. Um exemplo, ao final da obra, é o assassinato de um símbolo de uma geração de garotos pobres de São Paulo: Pixote. O menino descoberto na rua vendendo balas, se tornou astro de um filme no qual interpretava um papel no qual representava milhares de crianças do Brasil. O filme levou seu nome “Pixote, a lei do mais fraco” e foi dirigido pelo diretor Hector Babenco, tendo sido muito elogiado pelos críticos e apontado como um dos melhores filmes do ano. O rapaz que chegou a ficar famoso, não conseguiu se manter na carreira de ator, voltou à situação de pobreza anterior ao filme, acabou morto debaixo de uma cama, encolhido no canto de um quarto de maneira fria por policiais após uma perseguição.
Caco Barcellos conta esta história emblemática após tantas outras, e conta que tinha o seu próprio banco de dados, criado com a ajuda de um amigo e, posteriormente, de um assistente. Todas as mortes causadas pelos policiais nos supostos tiroteios eram catalogadas a partir de dados retirados de jornais populares e das fichas dos mortos no Instituto Médico Legal. O repórter ia ao necrotério todos os dias para checar os dados. Em sua conclusão, ficou claro que a maioria dos assassinados era composta de inocentes(65%). Dentre os outros, negros e pardos e a população de baixa renda eram os alvos preferidos dos PMs.
Do total de 4179 vítimas identificadas, 1932 eram brancas, 2012 eram negras e o restante não houve como apurar informações sobre a cor da pele. Estes números ficam mais acentuados se confrontados com a realidade do Censo Demográfico do IBGE à época, quando a proporção dos declarados brancos para os declarados negros era de 74 para 22 por cento respectivamente. Mais de 20% dos assassinados eram operários ou ajudantes de obras da construção civil. Quase todos residentes de regiões onde se concentra a população miserável de São Paulo.
O desfecho é um pouco diferente. O repórter e seu companheiro conseguem filmar os policiais maltratando as pessoas sem provas de qualquer crime, e estes são presos. Barcellos denuncia a ação dos matadores e a prisão de alguns maus policiais, que ficam longe de armas durante um bom tempo.