Morte e Vida Severina

Morte e Vida Severina João Cabral de Melo Neto




Resenhas - Morte e Vida Severina


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min_saskia 27/07/2021

Li pra escola
Esse livro é composto por vários poemas de João Cabral de Melo Neto.
O poema Morte e vida Severina, que deu nome ao livro, é com certeza o meu preferido. Ele apresenta ritmo, não é cansativo, e também relata situações enfrentadas pelos nordestinos que tentam fugir da seca, com uma crítica bem evidente. Incrível, incrível.
Sobre os outros poemas, não posso falar o mesmo. Pra mim, que já tenho dificuldade em ler e interpretar poemas, eles foram bem confusos. Fiquei perdida, não entendi, não gostei.
Li porque a escola pediu e agora tenho que fazer resumo. Não leria por conta própria, mas fiquei feliz de conhecer Morte e vida Severina (o poema!!)
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Emanuelle253 18/07/2021

Literatura pernambucana.
Gostei como o autor retratou a vida com as diversas problemáticas que existem no nordeste e, pela forma de poesia, a leitura é fluída. Algumas passagens do livro realmente mexeram com o meu emocional e mostra a dificuldade da vida das pessoas, tornando-se assim uma obra atemporal.
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Beto | @beto_anderson 16/07/2021

Queria ter gostado mais
Ainda tenho dificuldades em ler poemas. Especialmente poemas modernistas. Morte e vida Severina é mais fácil de compreender por contar uma história, mas os outros poemas presentes no livro alguns me deixaram perdido.

site: https://www.instagram.com/beto_anderson/
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Mr. Matos 14/07/2021

um auto sobre como se vive e morre no pais dos tristes trópicos
Nos últimos dias estava um pouco enfadado, a leitura não parecia muito produtiva, talvez acometido pela assim chamada "ressaca literária", nessa horas é sempre bom ter a mão um bom livro de poesia. A poesia é fundamental pelo motivo de que ela extrapola o sentido ordinário dos usos da linguagem, para além das funções descritivas, declaratórias a poesia atinge uma função criativa, como diria Otto Carpeaux a construção poética é capaz de "criar mundos" se você pensar nos Salmos de Davi, a Ilíada de Homero, Eneida de Virgílio, A divina comedia de Dante, ou o Fausto de Goethe. As construções poéticas são capazes de "elaborar" as condições de possibilidade da experiência de uma época, de uma visão de mundo do hebreu, passando pelo mundo greco-latino, do homem medieval até o burguês da era romântica. Quem possuiu uma certa familiaridade com obras de filosofia da linguagem o quilate de por exemplo o tratado "sobre a linguagem em geral e a linguagem dos homens" de um Walter Benjamin reconhece de longe o "poder" de um texto como esse:
No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens.
E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam.
João 1:1-5
Aqui o evangelista ao falar em Verbo, fala do Logos do principio ordenador da realidade que condensa a própria criação, a experiência de mundo que é possível e também passível de entendimento.
Nesse sentido João Cabral de Melo Neto é um dos poetas que possui a capacidade de universalizar a experiência do homem nordestino e a eleva a universalidade genérica da humanidade, seguindo a lição de Tolstoy "se queres ser universal, canta a tua vila". João Cabral canta o Capiberibe, Canta o Recife, Canta o Pernambuco e o Brasil, Canta sobre a vida e morte severina neste vale de lagrimas. No poema O RIO, o próprio Capiberibe ganha voz ao contar o itinerário da sua viagem até o Recife onde desagua no Mar o "Cemitério dos Rios" e no seu caminho nos da conta da beleza natural (e da sua hostilidade), e o rio canta a miséria humana agravada muitas vezes pela própria ação humana.
Mas na Usina que vi
aquela boca maior
que existe por detrás
das bocas que ela plantou;
que come o canavial
que contra as terras soltou;
que come o canavial
e tudo que ele devorou;
que come o canavial
e as casas que ele assaltou;
que come o canavial
e as caldeiras que sufocou.
Só na Usina é que vi
aquela boca maior,
a boca que devora
bocas que devorar mandou.
Na Vila da Usina
é que fui descobrir
que as canas expulsaram
das ribanceiras e vazantes;
e que essa gente mesma
na boca da Usina são os dentes
que mastigam a cana
que a mastigou enquanto gente;
que mastigam a cana
que mastigou anteriormente
as moendas dos engenhos
que mastigavam antes outra gente;
que nessa gente mesma,
nos dentes fracos que ela arrenda,
as moendas estrangeiras
sua força melhor assentam.
Por esta grande usina
olhando com cuidado eu vou,
que esta foi a usina
que toda esta Mata dominou.
Numa usina se aprende
como a carne mastiga o osso,
se aprende como as mãos
amassam a pedra, o caroço;
numa usina se assiste
à vitória maior e pior,
que é a de pedra dura
furada pelo suor.
João Cabral em seu morte e vida severina, nos explica como se vive e como se morre, em um pais como o Brasil
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes do trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.
Cabral nos ajuda a pensar sobre o horror do genocídio diário que hoje se vive, pela lavra do protofascista Jair Bolsonaro com a lavra dos seus cumplices no fisiologismo oligárquico nacional representado na desprezível figura do Sr. Arthur Lira, do decadente STF quem não para de nos surpreender com a sua incurável covardia, e claro não se pode esquecer delas, das assim chamadas Forças Armadas que exigem o respeito por todas as vezes que massacrou o próprio povo quando este ousou querer um pouco mais do que migalhas, o exercito sempre vai estar la para garantir a morte se não "de fraqueza e de doença/ é que a morte severina/ataca em qualquer idade,/e até gente não nascida." a morte pelo canto da "ave-bala" pois aqui:
sempre há uma bala voando
desocupada.
Infelizmente não há como transcrever todo o poema, só posso recomendar que seja lido por todos. Cabral no ensina, antecipando, todas discussões contemporâneas sobre A Bi politica do Homo saccer que Giorgio Agamben joga para a questão dos mecanismo da exceção para compreender o horror do holocausto e a politica da produção da morte, dos processos de desumanização e etc. O que para Agamben nos mostra em seus livros sobre a exceção, Cabral nos ensina que a "vida matável" é a nossa regra, o horror do assassinato em massa que o povo brasileiro vive hoje nada mais é do que a generalização da logica da morte severina que antes era imposta apenas para O retirante, para o preto e para o pobre, hoje a morte para o máximo de gente possível é a politica oficial do governo, mas é claro que não se esquece de velhos hábitos do dia para a noite, a opção preferencial pela morte continua sendo para os pobres Severinos.
Porém nem tudo é tragédia, O nosso poeta engenheiro e diplomata nos legou uma reflexão sobre a inspiração para a criação poética, "A faca só lâmina" que corta o poeta por dentro como se fosse o seu próprio esqueleto, é um incomodo que o impele a escrever e a Cantar o que vê.
Assim como uma bala
enterrada no corpo,
fazendo mais espesso
um dos lados do morto;
assim como uma bala
do chumbo mais pesado,
no musculo de um homem
pesando-o mais de um lado;
qual bala que tivesse
um vivo mecanismo,
bala que possuísse
um coração ativo
igual ao de um relógio
submerso em algum corpo,
ao de um relógio vivo
e também revoltoso,
relógio que tivesse
o gume de uma faca
e toda a impiedade
de lamina azulada;
assim como uma faca
que sem bolso ou bainha
se transformasse em parte da vossa anatomia;
qual uma faca intima
ou faca de uso interno,
habitando num corpo
como o próprio esqueleto
de um homem que o tivesse,
e sempre, doloroso,
de um homem que se ferisse
contra seus próprios ossos. p.139-140
De volta essa faca,
amiga ou inimiga, que mais condessa o homem
quanto mais o mastiga;
de volta dessa faca
de porte tão secreto
que deve ser levada
como o oculto esqueleto;
da imagem em que mais
me detive, a da lamina,
porque de todas elas
certamente a mais ávida;
pois de volta da faca
se sobe à outra imagem,
àquela de um relogio
picando sob a carne
e dela àquela outra,
a primeira, a da bala,
que tem o dente grosso
porém forte a dentada
e dai à lembrança
que vestiu tais imagens
e é muito mais intensa
do que pôde a linguagem
e afinal á presença
da realidade, prima,
que gerou a lembrança
e ainda a gera, ainda,
por fim à realidade,
prima e tão violenta
que ao tentar aprende-la
toda imagem rebenta. p.152-153
Aqui Cabral parece apontar para talvez para os limites da poesia o que lembram o dito sintético atribuído a Wittgenstein em suas investigações sobre a possibilidade da linguagem representar algo da realidade, "os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo", se a poesia exerce uma função cultural relevante para as nossas configurações do que entendemos como o "nosso mundo", ela encontra seus limites nesse próprio mundo, e aqui Cabral aponta que por mais horrível que seja a realidade brasileira, que "rebenta" qualquer imagem que se possa desta realidade fazer, contudo, Cabral não é um niilista em sua própria obra ele nos dá uma dica de onde procurar por uma resposta, voltemos ao final de "morte e vida severina"
Severino, retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil entender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que se vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-lá desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fabrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-lá brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina. p.132-133
Mesmo severina é somente na vida, onde ainda é possível algo como a esperança, a vita activa ou seja onde existe a práxis como o agir propriamente humano, a práxis transformadora que depõe a realidade como ela é, e nos permite vislumbrar o nascimento de um "novo mundo", a atenção que o poeta da a vida é um convite que o poeta nos faz a encher de esperança nossos combalidos corações, é o chamado para a nossa explosão como um povo Severino para viver uma vida para além da severina.
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Denise Ximenes 03/07/2021

Perfeito!
Severino é um retirante que foge das imposições da seca no interior de Pernambuco rumo a Recife, seguindo o curso do Rio Capibaribe. No caminho, presencia muito daquilo que ele conhece bem: fome, miséria, desolação e enterros.

João Cabral, conhecido como poeta-engenheiro, faz jus à denominação. É com categoria que ele seleciona cada palavra que compõe o poema. A associação de poesia e prosa lhe rendeu premiação internacional e o meu orgulho de ser brasileira! Rsrs

Severino (de J. Cabral) e Maria (de Conceição Evaristo) representam tantos severinos e tantas marias espalhados, Brasil afora. Esses autores que destacam os esquecidos merecem todo o meu respeito!

Recomendo.
Para João Cabral, o meu aplauso é de pé!
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Jader 29/06/2021

Ah o Pernambuco!
Que texto lindo! Uma poesia pesada, forte, ?sem palavras para defender a vida?, mas que ainda assim, sofrida, franzina, é a explosão de uma vida severina :)
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Becky 29/06/2021

Morte e Vida Severina?
Meu Deus, que livro!
Fantástico, normalmente ficamos assustados quando estamos diante de clássicos indicados pela escola, mas eu estou completamente sem palavras?
Eu comecei ontem de noite e terminei agora de manhã, não consegui parar de ler!!
A leitura é fluida e ?leve? (não sei se posso usar essa palavra, tendo em vista a crítica ferrenha e pesada que o livro carrega)?
Enfim, não vou dizer mais nada, apenas mencionar que esse é o melhor clássico que li desde o ?Auto da Compadecida? (podemos ver que eu gosto muito de Autos ?)
Enfim? perfeito!
?10/10?
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thali 27/06/2021

o Brasil em forma de poema
Somos todos Severinos? e morremos todos de morte severina? um livro maravilhoso!
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Paula 23/06/2021

Como não amar "morte e vida Severina"!!! Com certeza é uma poesia que retrata a história do nordestino brasileiro, representado por Severino, um retirante que parte em busca de uma vida melhor. No caminho tudo que encontra é morte, tristeza. Sua busca acaba em Recife onde encontra seu José Carpina que vai tentar convence-lo do real sentido da vida. É uma poesia tocante, profunda e verdadeira, acima de tudo. Uma obra de arte!
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Nanda 23/06/2021

Achei a leitura tranquila, embora seja toda em rima. João Cabral de Melo Neto fez um trabalho incrível.
O bom de ler obras regionais é que consegui identificar os lugares citados por Severino.
Super recomendo!
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ANA LUÍZA 18/06/2021

+/-
João Cabral classificou sua peça de auto de natal pernambucano, levando em conta tanto a forma popular dos versos curtos, comuns nos autos medievais, quanto a circunstância de tratar de um nascimento (natal) e de ambientar-se no sertão pernambucano. O título promove uma proposital inversão entre vida e morte, colocando esta em primeiro lugar. Essa troca da ordem natural indica os encontros com a morte e a vitória da vida, no final.  
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fleabookz 17/06/2021

Mais um clássico que comecei a ler só por ser um clássico, mas não tinha ideia de qual era a história. Agora imagina o tombo que levei quando vi que era um livro de poema, gênero que não gosto muito.
Quando me situei que ia falar sobre Pernambuco eu até que fiquei mais receptiva, pois amo demais meu país Pernambuco. Não precisa nem dizer que essas partes foram as minhas favoritas, fiquei só esperando citar o meu bairro quando finalmente fala sobre Recife. O único rio que tem no meu bairro é quando chove e alaga tudo.
Dito isso, dei 3 estrelas porque as partes que falavam de outras coisas/lugares me deixaram entediadas, toda hora que eu tava lendo acabava tirando um cochilo.
Foi uma boa leitura até, as críticas sociais me deixaram bem impactadas. LEIAM.
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Renata 13/06/2021

Li esse livro no ensino médio, era uma leitura obrigatória para o vestibular, é mesmo assim lembro que na época amei.
Como é bom revisitar leituras antigas de obras tão maravilhosas quanto essa!
Como é lindo e emocionante cada estrofe!
Todo brasileiro deveria ler!
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Maria16091 12/06/2021

"E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia"
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Guilhermo del Toró 06/06/2021

Ótimo livro sobre a vida e o sofrimento no nordeste. Contém certas críticas escondidas e uma leitura rápida e fluida
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