amanda.peixoto. 15/01/2021
Nesse livro, além de Morte e Vida Severina que carrega o título, João Cabral de Melo Neto nos presenteia com outros três importantes poemas. Em O Rio, o personagem principal é o próprio rio Capibaribe, onde relata acontecimentos ao longo do seu curso, desde o interior de Pernambuco até o mar mostrando o abandono do povo sertanejo e as consequências da exploração econômica em suas margens.
Em “Paisagens com figuras”, também regionalista e usando de descrições bastante visuais e metafóricas, o autor definiu como ponto central do poema as lembranças de Pernambuco em alternância com versos dedicados a paisagens da Espanha, explicitando a influência em sua obra do período em que foi diplomata no país.
“Morte e Vida Severina” é o mais famoso dos poemas de João Cabral, com diversas adaptações para teatro, cinema e televisão. O poema nos conta a história de Severino, um retirante que vai em direção ao litoral em busca de condições mais favoráveis e que durante a trajetória cruza com outros tantos Severinos, com vidas marcadas por desamparos e opressões. A morte sempre aparece como pano de fundo, mudando apenas de cenário, saindo das pedras para o mangue. A obra mostra a desigualdade social presente na década de 50, estampada através de uma crítica aos latifundiários e o escancaramento da miséria que acometeu a vida do povo nordestino limitada pela falta de comida, injustiças e privações. O ponto alto é o encontro de Severino com Mestre Carpina, onde há uma alusão a José e o nascimento de Cristo.
Por último, dividido em dez partes e dedicado à Vinicius de Moraes, João Cabral em “Uma Faca Só Lâmina” através de metáforas das palavras faca relógio e bala, refere-se à vida, ao tempo e à morte, à existência humana e seus pensamentos como um todo.
Não tenho costume de ler poemas e tive dificuldade de contextualizar em algumas passagens, mas ainda considero o livro uma boa entrada para conhecer o gênero.