Nina Souza 13/03/2024
Um livro interessante [13/193 países - Singapura]
As heranças culturais também são uma ótima maneira de conhecer o mundo, afinal, os autores sempre deixam traços de suas vivências e em “escola de contos eróticos para viúvas” não foi diferente: a autora nasceu em Singapura, mas tem fortes raízes familiares em Punjabi – estado indiano que faz fronteira com o Paquistão e é o coração da comunidade sikh bem representada na história, mas também uma região de grandes conflitos territoriais, políticos e religiosos.
O livro traz enfoque na comunidade que imigrou para Londres em busca de melhores condições de vida, mostrando de uma forma bem coerente todas as dificuldades e contrastes culturais e identitários. Há uma forte necessidade de manter tradições, a vivência da língua e a honra ancestral na narrativa, o que a torna uma reflexão muito além do suposto erotismo presente no título.
Nikki é filha de imigrantes indianos, que se distanciou da tradicional comunidade sikh, escolhendo uma vida independente e vista como ocidental. No entanto, ao procurar um novo emprego para auxiliar a família, encontra um de aula de escritas criativas em um centro comunitário no coração da comunidade punjabi em Londres.
As mulheres, no entanto, são viúvas que viveram toda uma vida amarrada numa cultura que têm muitos padrões repressivos e silenciadores sobre a voz, os desejos e os corpos femininos. Quando seus maridos morrem, suas existências são negadas – e elas redescobrem sua força através da força da literatura.
Ter um livro com tantas mulheres distintas, num grupo que contrasta entre gerações e aspectos culturais e morais faz com que o livro seja uma verdadeira jornada de autodescobrimento, enfrentando os próprios limites e padrões morais para expor a sexualidade e a manifestá-las em voz alta.
Gostei muito da dinâmica do livro, dos aspectos e de todas as vivências. A autora soube dosar bem as diferentes personalidades e bagagens culturais para o enfoque da narrativa, além de ter criado uma relação bem interessante entre essas mulheres, assim como as histórias que decidiam compartilhar em grupo.
Independentemente da cultura, falar sobre sexo e/ou sexualidade é um grande tabu, principalmente nas comunidades mais conservadoras e religiosas como a punjabi. O erotismo, no entanto, se resume a memórias, desejos e, simplesmente, às suas necessidades negadas em uma marginalização gerada e replicada pela própria comunidade.
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