Andre.Gomes 20/02/2021
De tanto minha mãe falar em Peri e Ceci, decidi ler O Guaraní, rimou!
Assim que comecei a leitura de O Guarani, imediatamente lembrei da obra de Fenimore Cooper, “O Último dos Moicanos”. É impossível não comparar as duas. Ambas pertencentes à fase do romantismo, fazem alusão a exaltação da natureza americana, a imposição da religião cristã e o choque cultural entre colonizadores e nativos. O Guarani retorna a época em que cada camada social possuía uma função definida, sendo o clero, detentor da verdade religiosa, a nobreza, a dona dos costumes a serem seguidos, e os demais colonos, sem perspectivas de ascensão e tendo como função obedecer e até morrer por pessoas de sangue nobre, como por exemplo, D. Antônio de Mariz. E por fim, temos os indígenas, os escravos da terra, vistos como povos sem salvação, com exceção daqueles que estivessem em contato constante com a cultura europeia, estes seriam homens de valor, como por exemplo, Peri. Alencar tinha consciência da existência deste olhar sobre o nativo americano, pois é algo evidente em sua obra a diferença entre o nativo submisso, colonizado, e o insubmisso, totalmente selvagem. A aculturação de Peri, portanto, não é inocente, mas proposital por parte do autor, pois evidencia essa discrepância entre o valoroso índio fiel e o perigoso indígena selvagem, dentro da perspectiva colonizadora. Para a minha surpresa, uma curiosidade que li no posfácio da edição que tive acesso, foi de quando do lançamento de O Guarani, antes publicado como folhetim de jornal no decorrer do ano de 1857, Alencar ter que se defender publicamente das críticas sobre possível plágio da obra de Cooper. Na verdade, ele não apenas negou ter plagiado O Ultimo dos Moicanos, como também afirmou que qualquer um que escreva sobre índios e colonos, abordará temas em comum com outros autores, como conflitos por terras, riquezas, resistência e modo de viver de povos indígenas, imposições culturais dos europeus, enfim, histórias que seriam parecidas em qualquer lugar da América, algo inevitável diante do processo civilizatório esmagador ocorrido em todo o território americano durante os séculos XVI, XVII e XVIII.