Mauricio.Alonso 27/12/2022A verdade e a realidade nua e cruaQuem pesquisar um pouco sobre esse livro, verá que se refere a um período pós revolução industrial, na segunda metade do século XIX, quando as condições da classe operária eram cada vez piores e mais degradantes. Dito isto, vou me ater à experiência da leitura e do texto em si, que achei muito agradável e de fácil compreensão, apesar de achar um pouco extenso. São várias personagens e famílias retratadas a fundo, cada uma com as suas características e peculiaridades. A história se passa em torno de Ethiel, um jovem trabalhador, despregado que encontra trabalho numa mina de carvão no norte da França e se envolve com as famílias de operários daquele local, se tornando depois um líder sindical, responsável por uma grande greve contra os seus patrões e os burgueses próximos que os exploram. A história trágica da família operária de Maheu é um caso a parte, só do apelido do ancião ser Boa Morte já indica o que os aguarda. A forma com que a maioria das mulheres são tratadas no livro também me pareceu algo intencional de Zola, sempre como propriedade de algum homem: a "mulher de Maheu", a "mulher de Pierron" - se não denunciando, no mínimo expondo um forte machismo presente naquela sociedade. Mas não acho legal detalhar aqui todos os aspectos explorados, de cada personagem, as familias operárias, as maneiras que encontram para sobreviver, o fosso entre elas e a burguesia. Até nas famílias burguesas E. Zola soube explorar as diferenças, por exemplo entre o "bom burguês" Grégoire que vive das gordas heranças do passado; o burguês sanguinário explorador Hennebeau que ascendeu mais recentemente; o decadente Deneulin que vê seu patrimônio ruir diante da crise industrial que cresce, todos porém bebendo do mesmo copo cheio do sangue e suor dos trabalhadores... enfim... é um livro para ler e refletir e, como em todo livro de perfil sociológico ou histórico, fazer uma ponte entre aqueles dias e os dias atuais, logicamente guardadas as devidas diferenças. Até para podermos responder aquela clássica questão: Onde estamos? De onde viemos? Para onde vamos?