Paulo de Carvalho 01/11/2024
Plus Ultra e os escambau tudo!
Simão Bacamarte era, talvez, o mais louco entre todos. Se Machado esperava nos dar alguma lição, não se ateve apenas em Bacamarte, mas passeou avidamente pela sociedade como um todo em sua própria época que, a despeito dos muitos anos de separação, segue extremamente atual como um todo. A corruptibilidade dos representantes, os líderes carismáticos que se levantam e se corrompem ao poder facilmente, tudo isso também compõe a narrativa machadiana em “O Alienista”, um extrato de sua época que é (por si só) a nossa.
É evidente a ironia ao cientificismo naturalista, aos excessos desprovidos de questionamentos, a corruptibilidade. Parafraseio a realidade atual: excessos de todos os lados, loucos desvairados por todos os lados, ciência usada como arma por pessoas com interesses que fogem da própria prática científica, entre outras coisas.
Mas, além de tudo, acredito piamente que em um mundo onde todos são loucos, o único são talvez seja naturalmente visto como o mais insano, o diferente, o absurdo dessa crônica realista. Se o mundo é dos loucos, logo o único “sensato” seja aquele verdadeiramente visto como “louco”.
Se isso não é puro suco de Brasil, eu não sei o que é. Loucos por todos os lados, os sensatos vistos como os verdadeiros insanos, a morte do mínimo de bom-senso. Machado evoca mais histórico-socialmente em minha mente do que a linha principal de Bacamarte.
Portanto, digo: que livro incrível, com doses de ironia extremamente satisfatórias. Talvez Machado de Assis tenha descoberto a fórmula da sobrevivência no Brasil — viver em eterna ironia (o meu estilo favorito de narrativa).