Edson 20/11/2022
Rápido, satírico, crítico e muito bem escrito!
Começo dizendo que recomendo a leitura! Apesar de muitas pessoas terem certo receio ou resistência para ler Machado, considerando a complexidade de sua escrita datada do século XIX, porém, O Alienista é uma obra que traz um texto recheado de sátira e crítica, em que o personagem Simão Bacamarte, médico de renome idealiza e dirige um sanatório denominado "Casa Verde".
Com sua oratória argumentativa e persuasiva, consegue autorização da Câmara dos Vereadores de Itaguaí para administrar o sanatório, com o intuito de analisar a loucura da mente humana. Por tratar-se a Casa Verde de instituição pública, devido à autorização dos vereadores, poderia internar qualquer cidadão que o médico e, consequentemente, a ciência, apresentasse sinais de insanidade. Porém, o rigor do doutor Bacamarte em seus diagnósticos, fez com que grandes quantidades de cidadãos itaguaienses fossem coletados e recolhidos aos seus tratamentos e estudos, chegando a quatro quintos da população.
As críticas são direcionadas à varias classes, aos donos da razão, à classe política e aos que buscam o poder desenfreadamente. Os donos da razão podem ser retratados na figura do médico Simão Bacamarte, símbolo de um saber duvidoso, como o único iniciado, mantenedor dos segredos da Ciência, incapaz de revelá-los à "rebeldes e leigos" (como quando confrontado por uma rebelião), que em sua infrene voracidade em coletar casos para estudo, fez diagnosticados diversos casos por razões fúteis, de forma que sua opinião vai se transformando ao longo do texto, quando ora os loucos são aqueles que possuem algum tipo de desequilíbrio mental/emocional e em outro momento conclui que os loucos são os que não possuem nenhum falha de caráter, e passa a recolher somente os cidadãos que são honestos e bons, crítica que ao meu ver torna-se clara ao conceito de honestidade e bondade incutido na sociedade do Brasil imperial e do Brasil contemporâneo.
O texto nos traz a ideia de crítica social aos ambiciosos pelo poder na figura do Barbeiro Porfírio Caetano das Neves, que aproveita-se das circunstâncias do fervor da opinião pública acerca dos métodos do alienista e de sua Casa Verde, para erigir uma revolução (revolta dos Canjicas) eficaz num primeiro momento, tendo em vista que toma o poder, porém, fugaz, tendo em vista que não cumpre a promessa feita à população de destruição da Casa Verde, preferindo aliar-se ao egrégio médico de renome internacional.
Quanto às críticas sociais à classe política, refere-se aos vereadores como figuras covardes e sem brio, que desconsideram qualquer exagero nos métodos do médico, para manterem, em contrapartida, a fama e as verbas que o renome do doutor Bacamarte e sua Casa Verde outorgam.
Depois de liberar todos os alienados de seu sanatório, ocorre ao diligente doutor, a possibilidade de não haver doidos em itaguaí, e sim que seus estudos levaram a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro, e que "Itaguaí não possuía um só mentecapto", e não possuindo um só louco, também não possuiria sequer um curado em todo seu esforço de estudo, e essa conclusão, por tratar-se de conclusão extremamente absoluta, poderia ser, portanto, errônea e paradoxalmente "destruir o largo e majestoso edifício da nova doutrina psicológica?".
Tal aflição traz suspeitas à Simão Bacamarte, que o único louco de Itaguaí, seja ele mesmo.