Bagrielthenorio 23/07/2023
O processo é a busca do sentido da vida.
Leitura excelente, confusa, vezes assustadora e angustiante, mas excelente.
Acredito que o livro seja passível de várias interpretações.
Tentei no melhor que pude, entender todas as questões judiciais que aconteciam, mas achei mais proveitoso extrapolar para uma linha de pensamento fora da questão judicial: o processo é a busca do sentido da vida.
Humildemente apresento minha linha de interpretação após o término recente da leitura:
[SPOILERS]
É na manhã dos seus 30 anos, que Josef se depara com seu processo.
- É interessante pensar que é justamente nessa idade que muitas pessoas dizem ter passado por crises existenciais.
Nesta altura da vida, Josef já poderia se considerar realizado, tinha um bom trabalho, era reconhecido por ser um bom funcionário e além disso era alguém muito bem instruído, culto e desenrolado. Faltava-lhe o amor é claro, e ele sentia essa falta, buscava afeto em relações vazias, mas no fundo sentia a falta do verdadeiro amor, que ignorou, até porque, qual seria a real importância disso?
De qualquer forma, mesmo que tenha demorado 30 anos a perceber, já se encontrava em seu processo desde sempre, que é na verdade a própria vida, a qual sem motivos ou explicações, seguimos cegamente na angústia, sem saber seu sentido.
No início, quando se dá conta que está em um processo, tentou transparecer confiança e calma, mas que começou a desaparecer quando se encontrou com a sensação de que todos pareciam o conhecer melhor do que ele mesmo e saberem qual era a forma mais correta dele encarar ou seguir a vida. Assim, no fim ele não tinha mais certeza da qualificação de seu juízo e de suas faculdades mentais, fugindo então das crises que o atormentavam (como a situação com o algoz, em um ambiente tão inusitado quanto seu trabalho).
- Aliás, quem é que nunca precisou fugir e se refugiar num momento de estresse em algum lugar, como por exemplo um banheiro, para simplesmente poder chorar sem ser incomodado não é mesmo?
Quando este se depara com o pintor, em outra tentativa de fugir de seu processo, descobre 3 formas de ser absolvido de seu sofrimento, uma totalmente ilusória, sem chances reais de acontecer, mas que supostamente seria definitiva, outra que resolveria de "forma aparente" seus problemas e uma de adiamento infinito, cada qual com sua vantagem e desvantagem, fazendo com que não haja uma escolha certa.
E justamente em um momento como esse, sem certeza de como agir perante a vida, Josef poderia como o comerciante, se entregar a submissão, numa espécie de religiosidade, fazenso a adoção de um advogado / guru / padre / pastor, que o julgaria antes mesmo de uma pseudo justiça imaginária, mas que assim aliviaria o trabalho próprio, ou seja, postergaria a dura reflexão do exame de si mesmo, visto que o tribunal (nossa mente), é tortuoso e confuso, cheio de caminhos e lugares sujos e escuros.
Porém, nem todos conseguem aceitar e acreditar que entregar suas vidas à algo, alguém ou entidade, possa ser a tal resposta. Sendo assim, o que resta? A real falta de sentido? O vazio? Pelo que se vive?
Acho a parte do padre uma das mais confusas, tenho que pensar mais a respeito, mas por hora, vejo o porteiro como o "senso comum". Existe sem ter um culpado, é uma lei habitual, a qual somos empregados a esta, pois é natural do ser humano certas ideias, medos e reações.
E muitas vezes a aceitamos, como o homem do campo, que passou sua vida toda esperando a oportunidade de entrar na porta que exclusivamente à ele era destinada. E eu me pergunto, o que teria feito o porteiro caso o homem tivesse passado pela porta? Umas pancadas? E depois, caso conseguisse, encontraria outro porteiro? Levaria outras pancadas?
Mas o que é a vida senão a sucessão de várias pancadas? Viver é sentir dor! E assim a gente vai seguindo. Ter medo da dor nos trava.
-Claro que aqui eu me refiro a dor como uma analogia para as dificuldades da vida.
Por fim, li uma crítica que apresentava uma teoria que no fim, os dois homens que buscam K. a fim de matá-lo, foram por ele contratados, caracterizando sua morte, como suicídio. Assim corroboraria a ideia de que ele perdeu o processo, perdendo sua própria vida, por não conseguir encontrar as respostas e seu sentido.