Manuela222 15/11/2024
Quem é o verdadeiro monstro?
Quando se fala em Frankenstein, qual a primeira coisa que vem à sua mente? Provavelmente, um monstro de aparência terrível, com todo aquele estereótipo que criamos em nossa cabeça. Uma criatura de pele esverdeada, com parafusos na cabeça, que anda tal qual um zumbi. Um ser irracional que não é sequer capaz de ter sentimentos. Esse era o pensamento que eu tinha. Porém, quando a obra de Mary Shelley me foi apresentada, essa ideia foi rompida de vez. Descobri que Frankenstein não é a criatura, e sim o criador, e que o monstro não é alguém tão execrável, e sim um ser pensante e sentimental.
Victor Frankenstein é aluno da universidade de Ingolstadt, sempre foi muito ávido por conhecimento e extremamente ambicioso. Essa ambição fez com que ele quisesse realizar um feito inédito: criar e dar vida a um ser humano. Porém, ao contrário de Deus quando dá vida a Adão, Frankenstein abandona sua criação, deixando-o à mercê de sua própria sorte. É assim que "Frankenstein" se inicia, e daí por diante podemos ver a jornada de aprendizado e autodescoberta do monstro e a forma na qual o Dr. lida com os resultados que sua falta de ética e empatia provocaram.
Quando iniciei a leitura, pensei que seria um livro assustador, que a qualquer momento poderia levar um grande susto, já que além de um romance gótico e uma ficção científica (aliás, é considerada a primeira do gênero), essa é uma obra de terror. No entanto, ao avançar na leitura, percebi que o terror que Mary Shelley queria expor era o terror dos mistérios da mente humana (e do monstro) e como ela lida com as consequências de seus atos que, por vezes, levam à loucura.
O livro tem um enredo bastante interessante, mas em certos momentos senti que a leitura não fluía. Há uma descrição extremamente detalhada de todos os locais e sentimentos dos personagens, o que às vezes acaba deixando a leitura cansativa, mas, ao mesmo tempo, estimula ainda mais que nós nos coloquemos no lugar deles, vivendo o que viveram e sentindo o que sentiram. Algo de que gostei bastante são os vários pontos de vista que o livro nos oferece. Podemos ver pela visão de cinco personagens (alguns mais e outros menos) como a narrativa se desenrola, enriquecendo-a e permitindo que o leitor analise os dilemas dos personagens de forma mais clara.
"Frankenstein ou Prometeu Moderno" foi escrito em 1818, mas apesar disso é um livro muito à frente do seu tempo, com críticas e questões éticas que podem ser discutidas até hoje. Frankenstein, quando criou o monstro, não teve o mínimo de responsabilidade afetiva por sua criatura. Ele o deixou sem sequer um nome, sem uma identidade. Imagine crescer sem saber quem você é, de onde veio, sem se identificar com ninguém à sua volta. Foi exatamente o que o Dr. fez. Não é à toa que ele teve o destino que teve. Por conta de sua ambição e covardia, acabou cavando sua própria cova.
O livro surgiu de um desafio do poeta Lord Byron, quando estavam presos dentro de casa por conta de uma tempestade. Ele propôs que escrevessem histórias sobre fantasmas como passatempo. Inicialmente, Mary Shelley relutou em aceitar o desafio, mas em uma madrugada teve uma visão sobre a história do jovem Frankenstein e conseguiu criar e apresentar um conto. Posteriormente, com o incentivo de seu futuro marido, Percy Shelley, o conto se tornou um livro, e hoje é um dos maiores clássicos da literatura gótica.
Por falar em Mary Shelley, podemos relacionar muitos aspectos de sua vida com o livro que escreveu. Mary perdeu sua mãe logo depois que nasceu, e quando ela experimentou a maternidade, acabou perdendo três filhos. Passou também pelo suicídio de sua meia-irmã e da ex-mulher de seu marido. Ela dá a vida ao monstro de Frankenstein como se quisesse também dar vida a todos os amigos e familiares que se foram tão precocemente. O vazio que a criatura desejava preencher representa também o vazio que a própria autora tinha em seu coração.
Conclui-se que ?Frankenstein ou Prometeu Moderno? é uma obra que vai além do estereótipo monstruoso criado. Mary Shelley, ao escrever sobre a solidão e o sofrimento de sua própria vida, dá voz a um ser marginalizado que acaba cometendo muitas atrocidades, mas que, no fundo, assim como diversas pessoas na sociedade, só busca ser compreendido e amado. Por fim, a autora nos confronta com uma pergunta que pode fornecer diferentes respostas: Quem realmente é o monstro, o criador ou a criatura?